Ação conjunta e complementar
O cérebro humano contém bilhões de neurônios que recebem continuamente informação e estímulos do exterior. Para a tomada de decisões, os neurônios avaliam a cada momento se o estímulo é positivo ou negativo. Caso seja positivo, há uma tendência à aproximação; se for negativo surge uma reação de aversão.
O núcleo accumbens (NAc) do cérebro tem um papel central nesse processo de avaliação e catalogação dos estímulos. Ana Verónica Domingues e colegas da Universidade do Minho (Portugal) queriam aprofundar o conhecimento sobre a participação das populações neuronais específicas desse processo, conhecidas como D1 e D2, que parecem codificar os estímulos atrativos ou aversivos, mas cujo funcionamento ainda não é totalmente compreendido.
Conhecer essa dinâmica é fundamental para a compreensão de doenças como o estresse pós-traumático e a depressão.
Ao monitorarem em tempo real centenas de neurônios em camundongos expostos a estímulos atrativos e aversivos, os pesquisadores demonstraram pela primeira vez que os neurônios D1 e D2, ao contrário do que os cientistas pensavam até agora, não são funcionalmente opostos, mas sim complementares.
Em outras palavras, os dois tipos de neurônios respondem em conjunto a ambos os estímulos, trabalhando juntos, embora de forma diferenciada.
Estresse pós-traumático
Graças a recursos de imagem avançada, os pesquisadores conseguiram observar que, durante a aprendizagem associativa, ou seja, quando um estímulo é associado a uma recompensa ou punição, ambos os tipos de neurônios são ativados e trabalham juntos, mas de modo diferenciado: Quando as associações mudam, como quando um estímulo negativo deixa de ter uma consequência desagradável, os neurônios D2 são essenciais para extinguir essa associação aversiva.
"Um mesmo estímulo externo pode provocar reações muito distintas dependendo do contexto do indivíduo e das suas memórias. Por exemplo, o som de fogos de artifício pode evocar celebrações e alegria, mas para um ex-militar pode desencadear uma crise de ansiedade, trazendo-lhe lembranças da guerra, mesmo que se encontre num ambiente seguro", exemplifica a professora Carina Soares-Cunha. "Uma vez que as dificuldades em modificar associações negativas estão ligadas à ansiedade e ao estresse pós-traumático, compreender melhor a função dos neurônios D2 pode ajudar a desenvolver novos tratamentos."
Em termos gerais, o estudo comprova a capacidade que o cérebro tem para reclassificar constantemente estímulos externos com base em experiências anteriores e adaptar-se a novas situações, comprovando ao mesmo tempo a complexidade dos circuitos neuronais envolvidos nesse tipo de memória.
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