06/07/2022

Descoberta muda a compreensão de como nosso sangue é formado

Redação do Diário da Saúde
Descoberta muda a compreensão de como nosso sangue é formado
Aglomerados das primeiras células hematopoiéticas nascendo nas paredes da artéria umbilical de um embrião de camundongo. As células coloridas em vermelho representam células progenitoras multipotentes embrionárias (eMPPs).
[Imagem: Sachin H. Patel/Boston Childrens Hospital]

Como o sangue se forma

As origens do nosso sangue podem não ser bem o que os livros-texto de ciência têm descrito.

Pesquisadores descobriram que as células do sangue não se originam de um único tipo de célula-mãe, mas de duas.

E este é um dado que impacta diretamente as pesquisas dos cânceres que afetam o sangue (leucemias), dos transplantes de medula óssea e da imunologia.

"Historicamente, as pessoas acreditavam que a maior parte do nosso sangue vinha de um número muito pequeno de células, que eventualmente se tornam células-tronco sanguíneas, também conhecidas como células-tronco hematopoiéticas. Ficamos surpresos ao encontrar outro grupo de células progenitoras, que não vêm de células-tronco. Elas produzem a maior parte do sangue na vida fetal até a idade adulta, e depois começam a diminuir gradualmente," disse o professor Fernando Camargo, do Hospital Infantil de Boston (EUA).

Para descobrir e rastrear essas células, a equipe do professor Fernando aplicou uma técnica que marca as células com uma espécie de "código de barras". Usando uma enzima conhecida como transposase ou edição genética CRISPR, eles inseriram sequências genéticas únicas em células embrionárias de camundongos, de tal forma que todas as células descendentes delas também carregavam essas sequências.

Isso permitiu que a equipe acompanhasse o surgimento de todos os diferentes tipos de células sanguíneas e de onde elas vieram, até a idade adulta.

Os pesquisadores agora estão começando os experimentos para confirmar que as descobertas também se aplicam a humanos - eles acreditam que o processo é o mesmo para todos os mamíferos.

Células progenitoras multipotentes embrionárias

Se a descoberta for confirmada em humanos, essas células, batizadas de células progenitoras multipotentes embrionárias (eMPPs: embryonic multipotent progenitor cells), poderiam potencialmente se tornar a base para novos tratamentos para reforçar o sistema imunológico de pessoas idosas ou com baixa resistência.

A equipe também está animada com as implicações potenciais para uma melhor compreensão e para o tratamento dos cânceres do sangue. Por exemplo, as leucemias mieloides, que atingem principalmente pessoas mais velhas, afetam as células sanguíneas mieloides, como granulócitos e monócitos.

Com base na descoberta das novas células, é possível que essas leucemias possam se originar de células-tronco do sangue, e que as leucemias em crianças, que são principalmente leucemias linfoides, podem se originar das eMPPs.

"Agora estamos tentando entender por que essas células se esgotam na meia-idade, o que poderia nos permitir manipulá-las com o objetivo de rejuvenescer o sistema imunológico," disse o professor Fernando.

Em teoria, poderia haver duas abordagens para o desenvolvimento dessas novas terapias: Prolongar a vida das células eMPPs, talvez por meio de fatores de crescimento ou moléculas de sinalização imunológica, ou tratar as células-tronco do sangue com terapia genética para torná-las mais parecidas com as eMPPs.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Lifelong multilineage contribution by embryonic-born blood progenitors
Autores: Sachin H. Patel, Constantina Christodoulou, Caleb Weinreb, Qi Yu, Edroaldo Lummertz da Rocha, Brian J. Pepe-Mooney, Sarah Bowling, Li Li, Fernando G. Osorio, George Q. Daley, Fernando D. Camargo
Publicação: Nature
DOI: 10.1038/s41586-022-04804-z
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