Vamos falar sério sobre os efeitos colaterais dos anticoncepcionais?

Outra pesquisa recente comprovou que os anticoncepcionais afetam fortemente as emoções das mulheres.
[Imagem: Beatriz M. Brandao et al. - 10.1016/j.yhbeh.2025.105805]

Efeitos colaterais dos anticoncepcionais

As expectativas e crenças de uma mulher sobre a pílula anticoncepcional podem afetar os efeitos colaterais que ela sente ao tomar o contraceptivo.

A descoberta aponta para a existência de um efeito nocebo - o inverso do conhecido efeito placebo - em relação aos anticoncepcionais.

O efeito nocebo ocorre quando fatores psicológicos - como uma expectativa negativa, ansiedade ou medo - provocam uma resposta física no corpo de quem toma uma medicação. No caso dos anticoncepcionais orais, essa resposta pode incluir sintomas como depressão, ansiedade e fadiga, que são sentidos como efeitos fisiológicos reais.

A pesquisa se originou de uma preocupação com um fenômeno crescente: A interrupção do uso da pílula. Estudos internacionais indicam que cerca de duas em cada três mulheres param de tomar a pílula nos dois primeiros anos de uso, muitas vezes optando por métodos contraceptivos menos eficazes. Os efeitos colaterais são frequentemente a razão central para essa decisão.

Em resposta a essa preocupação, Lorna Reid e Rebecca Webster, da Universidade de Sheffield (Reino Unido), recrutaram 275 mulheres, com idades entre 18 e 45 anos, que haviam tomado a pílula em algum momento nos 18 meses anteriores. As participantes responderam a um questionário detalhado sobre os efeitos colaterais que experimentavam e suas atitudes em relação aos anticoncepcionais.

Efeito nocebo dos anticoncepcionais

Quase todas as participantes (97%) relataram pelo menos um efeito colateral. Ao final do período de 18 meses, 126 mulheres (45,8%) haviam interrompido o uso da pílula.

Os dados mostraram que quatro fatores psicológicos estão fortemente associados à probabilidade de as mulheres experimentarem efeitos colaterais negativos:

1. A expectativa negativa desde o início: A crença prévia de que o medicamento seria prejudicial.
2. Baixa confiança no desenvolvimento de medicamentos.
3. A convicção de que os medicamentos são usados em excesso e são nocivos.
4. A crença de ser uma pessoa sensível a medicamentos.

"A pílula anticoncepcional recebe muita atenção negativa, principalmente nas redes sociais, e nos interessamos em como essas visões poderiam influenciar a forma como as mulheres a experimentam," disse Webster. Sua colega Reid destaca o mesmo fenômeno, enfatizando a importância de reconhecer como a experiência de algumas mulheres com a pílula é afetada pelo efeito nocebo, especialmente as mais jovens, que podem estar mais expostas a mensagens negativas nas mídias sociais.

A expectativa é que, reconhecendo esses efeitos, as mulheres possam tomar decisões mais conscientes e melhor informadas. As duas pesquisadoras ressaltam que o estudo é exploratório e teve limitações, como a participação majoritária de mulheres brancas e jovens. No entanto, o estudo estabelece uma base crucial para pesquisas futuras que visem melhorar a experiência das mulheres com a contracepção.