27/07/2022

Falsas crenças sobre a prevalência de crimes influenciam decisões de júris

Redação do Diário da Saúde
Falsas crenças sobre a prevalência de crimes influenciam decisões de júris
Além de cega, a Justiça deve ser isenta de sentimentos?
[Imagem: Wikimedia/Phil Roeder]

Vendo crimes demais

Algumas decisões dos membros de um júri são influenciadas por percepções que essas pessoas, selecionadas do público, têm da prevalência dos crimes.

Ocorre que essas percepções podem ser incorretas ou tendenciosas.

Pesquisadores mostraram como as pessoas têm opiniões diferentes sobre a frequência com que ocorrem eventos legalmente relevantes - incluindo agressões sexuais e falsas alegações de agressões sexuais -, e essas opiniões diferem com base no gênero e nas crenças políticas.

Por exemplo, os homens acreditam que a agressão sexual infantil e os danos psicológicos resultantes do abuso são menos prevalentes, em comparação com as opiniões manifestadas pelas mulheres. Esses pontos de vista provavelmente alimentarão as avaliações dos depoimentos do reclamante e do réu e, em última análise, influenciarão os veredictos legais, destacando a necessidade de equilíbrio de gênero nos júris.

Os pesquisadores pediram que 539 pessoas, com idades entre 37 e 61 anos, estimassem o quão comum seria um conjunto de eventos legalmente relevantes, e que examinassem evidências tipicamente apresentadas em um júri em dois casos hipotéticos. Um caso envolvia uma acusação de agressão sexual infantil e o outro envolvia uma defesa por homicídio com base em violência doméstica.

Foi pedido aos participantes que eles fizessem julgamentos sobre as evidências do reclamante e do réu em cada caso e indicassem como decidiriam o caso se estivessem em um júri.

Visões variadas

Os resultados mostraram que participantes de diferentes gêneros e crenças políticas avaliaram as evidências de maneira diferente, e essa diferença foi parcialmente explicada por diferentes percepções de quão comuns seriam os supostos eventos - o quanto cada um dos voluntários acreditava que esses crimes ocorriam na vida real.

No caso da agressão sexual infantil, as mulheres foram mais propensas a acreditar na vítima e dar um veredicto de culpa - um efeito explicado em parte pelo fato de que as mulheres classificaram a agressão sexual infantil como mais prevalente do que os homens na população em geral.

"Nossos resultados mostram que as pessoas têm visões muito variadas sobre a prevalência de eventos juridicamente importantes e que essas opiniões sobre prevalência podem influenciar seus julgamentos legais. Essa influência é importante, pois as visões sobre a prevalência podem ser tendenciosas, por exemplo, por experiência pessoal, experiências de amigos, ou cobertura da mídia. Quando opiniões sobre prevalência influenciam julgamentos legais, elas podem criar viés nesses julgamentos.

"Embora o sistema de júri dependa especificamente de jurados com base na experiência pessoal, isso pode ser inadequado quando a base de experiência de um jurado é drasticamente diferente daquela das pessoas sobre as quais estão fazendo julgamentos. Visões irresponsáveis e desinformadas sobre a prevalência [dos eventos] devem ser vistas da mesma forma que crenças problemáticas, como mitos de estupro - como equívocos prejudiciais a serem corrigidos," disse a professora Rebecca Helm, da Universidade de Exeter (Reino Unido).

Checagem com artigo científico:

Artigo: Prevalence estimates as priors: Juror characteristics, perceived base rates, and verdicts in cases reliant on complainant and defendant testimony
Autores: Rebecca K. Helm, Bethany Growns
Publicação: Applied Cognitive Psychology
DOI: 10.1002/acp.3978
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