07/12/2023

Linguagem natural dos gestos: Parece haver um sistema universal de comunicação não-verbal

Redação do Diário da Saúde
Linguagem natural dos gestos: Parece haver um sistema universal de comunicação não-verbal
Mesmo as crianças turcas simplificaram os gestos, já que não precisavam mais quebrar a ideia de correr para dentro de casa em duas orações separadas.
[Imagem: Seyda Ozçaliskan et al. - 10.1017/langcog.2023.34]

Falar com as mãos

A língua nativa afeta a forma como as pessoas transmitem informações desde as mais tenras idades, sugerindo a presença de um sistema universal de comunicação - um sistema de comunicação gestual.

A professora Seyda Ozçaliskan, da Universidade do Estado da Geórgia (EUA) vem pesquisando a conexão entre linguagem e pensamento há anos. Desta vez, ela se uniu às suas colegas Susan Meadow (Universidade de Chicago) e Che Lucero (Universidade Cornell) pra estudar especificamente crianças de 3 a 12 anos, que falavam inglês ou turco.

"Inglês e turco foram as principais comparações porque diferem em termos da forma como se fala sobre os acontecimentos," justificou Ozçaliskan, ela própria falante nativa de turco. "Se você está falando turco, se quiser descrever alguém correndo para dentro de uma casa, você tem que fragmentar a ideia. Você diz: 'Ele está correndo e então entra na casa'. Mas se for em inglês, você dirá apenas 'Ele correu para dentro de casa', tudo em uma frase compacta. Assim, é mais fácil expressar tanto correr (modo de movimento) quanto entrar (trajeto de movimento) juntos em uma única expressão em inglês do que em turco.

Mas o principal intuito era descobrir se os gestos que usamos na comunicação acompanham ou não essas diferenças no idioma. Por isso as pesquisadoras pediram às crianças - falantes nativas de inglês ou de turco - para usar as mãos para demonstrar ações específicas - como correr para dentro de casa.

Primeiro as crianças descreviam a ação de modo espontâneo, incluindo fala e gestos (gestos de co-fala), e depois precisavam expressar a mesma ação sem falar, usando apenas as mãos (conhecido como gesto silencioso).

Linguagem natural dos gestos: Parece haver um sistema universal de comunicação não-verbal
O padrão verificado entre as crianças se repetiu com adultos cegos, que nunca viram os gestos dos outros.
[Imagem: Seyda Ozçaliskan et al. - 10.1017/langcog.2023.34]

Sistema de gestos universal

Os resultados foram inequívocos: Quando as crianças falavam e gesticulavam ao mesmo tempo, os seus gestos seguiam as convenções da sua língua nativa, com diferenças claras entre os gestos dos falantes de turco e de inglês. No entanto, quando as crianças usaram gestos sem falar, seus gestos foram notavelmente semelhantes.

E esses padrões surgem em uma idade muito jovem: O gesto que acompanha a fala das crianças começa a seguir os padrões da sua linguagem falada entre os 3 e 4 anos de idade. Mas os gestos "naturais", algo como um sistema universal de comunicação gestual, continua "gravado", e as crianças os utilizam tão logo não podem falar.

Para confirmar os resultados, a equipe estudou adultos cegos em comparação com pessoas com visão normal, também falantes de inglês e turco. Foram registradas exatamente as mesmas diferenças no gesto de co-fala e semelhanças no gesto silencioso - apesar do fato de os participantes sem visão serem cegos de nascença, o que significa que eles nunca viram ninguém gesticular antes.

O padrão registrado no falar com as mãos sugere que pode haver um sistema de gestos universal que nos permite comunicar uns com os outros, independentemente da linguagem, da capacidade auditiva ou da visão.

Checagem com artigo científico:

Artigo: What the development of gesture with and without speech can tell us about the effect of language on thought
Autores: Seyda Ozçaliskan, Ché Lucero, Susan Goldin-Meadow
Publicação: Language and Cognition
DOI: 10.1017/langcog.2023.34
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Educação

Mente

Emoções

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.