09/06/2020

Melatonina tem efeito cardioprotetor, mas exige cuidados

Com informações da Agência Fapesp
Melatonina tem efeito cardioprotetor, mas exige cuidados
Efeito amplo do hormônio, não só no sono, mas também no sistema cardiovascular e em distúrbios metabólicos, ressalta sua importância terapêutica e, por outro lado, a necessidade de maior cuidado no uso e na prescrição da melatonina.
[Imagem: Bryan Brandenburg/Wikimedia Commons]

Funções da melatonina

A melatonina - substância popularmente conhecida como o "hormônio do sono" - protege o coração contra arritmias, doença arterial coronariana, hipertensão e outros distúrbios cardiovasculares.

A conclusão é de pesquisadores brasileiros que revisaram os dados de 162 ensaios clínicos feitos em várias partes do mundo.

"A ação do hormônio sobre a pressão arterial e a frequência cardíaca se dá tanto de maneira periférica nos vasos e no coração, como de modo central no hipotálamo e em outras estruturas do sistema nervoso central. Estudos mostraram o efeito do hormônio até mesmo sobre as mitocôndrias das células, importantes na regulação do sistema cardiovascular," explica o professor José Cipolla Netto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Além de dados de trabalhos clínicos e ensaios experimentais sobre o papel cardioprotetor da melatonina, os pesquisadores listaram substâncias capazes de imitar a função do hormônio - tecnicamente chamadas de agonistas dos receptores de melatonina.

"De um conjunto imenso de moléculas, encontramos 780 com ação cardiovascular supostamente semelhante à da melatonina," disse José Cipolla, ressaltando que esses dados vão ajudar no desenvolvimento de novas drogas para doenças cardiovasculares.

Melatonina e diabetes

O professor José Cipolla coordena um projeto que vem estudando a ação do hormônio do sono em distúrbios metabólicos, tendo mostrado recentemente que a baixa produção de melatonina pode causar sintomas variados, pois a substância interage com vários sistemas do corpo, como o cardiovascular, imunológico, reprodutor, sistema nervoso central e também o metabolismo energético.

E o hormônio tem efeitos noturnos e diurnos distintos, o que explica porque os cientistas o consideraram por muito tempo como diabetogênico.

"À noite, quando o hormônio é fisiologicamente secretado, ele de fato reduz a produção de insulina e induz resistência insulínica, pois nessa fase o indivíduo está dormindo e, portanto, em jejum. A melatonina produzida e que atua à noite, por outro lado, determina, durante o dia, aumento da sensibilidade insulínica, aumento da secreção de insulina pelo pâncreas, estimulada pelas incretinas, o que é necessário para a fisiologia do dia."

Dessa forma, tomar melatonina à noite pode gerar uma melhora no controle glicêmico. "Isso precisava ser esclarecido. Havia dados, mas permaneciam algumas confusões de interpretação sobre a questão de ela ser pró-insulínica ou anti-insulínica," disse o pesquisador.

Cuidados com a reposição hormonal

O pesquisador alerta que a ação ampla da substância no organismo - seja na regulação do sono, no sistema cardiovascular ou na regulação do metabolismo - só reforça a necessidade de que a reposição hormonal seja cuidadosamente calculada de maneira personalizada.

"É uma atenção a mais que se deve ter. Por isso, faço questão de dizer que melatonina não é uma substância inócua que possa ser tomada ao bel-prazer. Ela é um hormônio e a sua administração deveria ser rigorosamente controlada," ressalta José Cipolla.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Cardioprotective Melatonin: Translating from Proof-of-Concept Studies to Therapeutic Use
Autores: Ovidiu Constantin Baltatu, Sergio Senar, Luciana Aparecida Campos, José Cipolla-Neto
Publicação: International Journal of Molecular Sciences
Vol.: 20(18), 4342
DOI: 10.3390/ijms20184342

Artigo: New insights into the function of melatonin and its role in metabolic disturbances
Autores: Fernanda Gaspar do Amaral, Jéssica Andrade Silva, Wilson M. T. Kuwabara, José Cipolla Neto
Publicação: Expert Review of Endocrinology & Metabolism
Vol.: 14, Issue 4
DOI: 10.1080/17446651.2019.1631158
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