04/10/2021

Nobel de Medicina 2021 premia descoberta de sensores de temperatura e tato

Redação do Diário da Saúde
Nobel de Medicina 2021 premia descoberta de sensores de temperatura e tato
As descobertas explicaram como o calor, o frio e o toque podem iniciar sinais em nosso sistema nervoso. Os canais iônicos identificados são importantes para muitos processos fisiológicos e condições de doença.
[Imagem: Nobel Foundation]

Nobel de Medicina 2021

O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2021 foi concedido conjuntamente a David Julius e Ardem Patapoutian por suas descobertas dos sensores humanos para a temperatura e o tato.

Nossa capacidade de sentir calor, frio e toque é essencial para a sobrevivência e sustenta nossa interação com o mundo ao nosso redor. Em nossa vida diária, consideramos essas sensações como óbvias, mas foram as equipes dos dois cientistas que descobriram os impulsos nervosos que sentimos como temperatura e como pressão.

Sensor de calor

No final da década de 1990, o professor David Julius e sua equipe da Universidade da Califórnia em São Francisco (EUA) tiveram a ideia de analisar como o composto químico capsaicina, que causa a sensação de queimação que sentimos quando comemos pimenta malagueta, ativa nosso sistema nervoso.

Já se sabia que a capsaicina ativava células nervosas causando sensações de dor, mas como essa substância química realmente exercia essa função era um enigma não resolvido. Julius e seus colegas criaram uma biblioteca de milhões de fragmentos de DNA correspondentes a genes que são expressos nos neurônios sensoriais que podem reagir à dor, calor e toque, e então levantaram a hipótese de que essa biblioteca incluiria um fragmento de DNA que codificaria a proteína capaz de reagir à capsaicina.

Eles finalmente identificaram um único gene capaz de tornar as células sensíveis à capsaicina após uma busca paciente e trabalhosa. Experimentos subsequentes revelaram que o gene identificado codifica uma nova proteína de canal iônico e esse receptor de capsaicina foi mais tarde denominado TRPV1. Quando a equipe investigou a capacidade da proteína de responder ao calor, deram-se conta de que haviam descoberto um receptor sensor de calor que é ativado em temperaturas percebidas como dolorosas.

Sensor de pressão

Ardem Patapoutian e seus colegas do Instituto de Pesquisas Scripps (EUA) se propuseram a identificar os receptores sensoriais que são ativados por estímulos mecânicos.

Eles identificaram pela primeira vez uma linha celular que emitia um sinal elétrico mensurável quando células individuais eram cutucadas com uma micropipeta. Assumindo que o receptor ativado por força mecânica seria um canal iônico, eles identificaram 72 genes candidatos a codificar possíveis receptores. Esses genes foram inativados um a um até que a equipe chegou ao gene responsável pela mecanossensibilidade nas células.

Depois de uma busca igualmente trabalhosa, a equipe finalmente conseguiu identificar um único gene cujo silenciamento tornava as células insensíveis aos cutucões. Estava revelada a existência de um canal iônico sensível à mecânica, que recebeu o nome de Piezo1, a palavra grega para pressão.

Posteriormente, foi descoberto um segundo gene e, por sua semelhança com o Piezo1, foi denominado Piezo2. Também foram identificados os neurônios sensoriais que expressam altos níveis de Piezo2 e estudos posteriores estabeleceram firmemente que Piezo1 e Piezo2 são canais iônicos que são ativados diretamente pelo exercício de pressão nas membranas celulares.

Nobel de Medicina 2021 premia descoberta de sensores de temperatura e tato
Mesmo sendo um empreendimento conjunto, você provavelmente nunca ouvirá falar nas dezenas de outros cientistas que assinam os artigos científicos que descrevem as descobertas. Apenas David Julius e Ardem Patapoutian ganharam a fama.
[Imagem: Nobel Foundation]

Críticas ao Nobel

Como se pode deduzir deste, e de todos os demais anúncios dos prêmios Nobel ao longo dos anos, os nomes dos agraciados vêm sempre acompanhados de "e sua equipe", "e seus colegas" e referências desse tipo.

Acontece que, há muito tempo, a ciência acadêmica deixou de ser um empreendimento marcadamente individual. Mas as dezenas de outros pesquisadores que participaram e até mesmo idealizaram e realizaram os experimentos, são simplesmente esquecidos pelo Nobel, que premia apenas o professor mais graduado, o chefe do laboratório.

Existe até mesmo um caso extremo, em que o cientista que fez a descoberta conseguiu demonstrar que o chefe do laboratório onde ele trabalhou sequer sabia do conteúdo das suas pesquisas - mas foi aquele chefe do laboratório que recebeu o Nobel.

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