03/08/2017

Nova forma de desenvolver antibióticos é descoberta por acaso

Redação do Diário da Saúde
Nova forma de desenvolver antibióticos é descoberta por acaso
Outro estudo recente mostrou que muitos antibióticos eficazes não são aprovados porque o teste padrão tem uma falha grave.
[Imagem: Peter Allen/Brian Long]

Do câncer aos antibióticos

Pesquisadores da Universidade de Salford (Reino Unido) podem ter encontrado uma solução para reverter o problema mundial da resistência aos antibióticos e parar infecções com as superbactérias como a MRSA.

Bela Ozsvari e Michael Lisanti encontraram um caminho muito simples para isso durante um trabalho no qual eles nem mesmo estavam procurando por antibióticos.

Até agora, a nova técnica já permitiu identificar e validar vários novos antibióticos, muitos dos quais são tão ou mais potentes do que os antibióticos padrão, como a amoxicilina.

"Um pouco como Alexander Fleming - que descobriu a penicilina quando estudava bactérias e fungos -, nem estávamos procurando por antibióticos; estávamos pesquisando novos compostos que possam ser efetivos contra as células-tronco do câncer," explicou o professor Lisanti.

Mitocôndrias

A equipe de Lisanti é especializada em células-tronco cancerígenas e especificamente em métodos para inibir a produção de energia nas mitocôndrias, a "usina" das células, que também alimenta o crescimento de tumores fatais.

Uma das linhas do trabalho envolvia estudar a forma como os antibióticos podem ser eficazes contra essas mitocôndrias. Então, ao pesquisar uma biblioteca de compostos para potenciais "munições", eles encontraram diversos compostos que eram eficazes contra as mitocôndrias. Como têm o mesmo modo de ação que os antibióticos, ocorreu então à equipe testá-los não contra o câncer, mas como antibióticos.

"As mitocôndrias e as bactérias têm muito em comum," ressalta Lisanti. "Nós começamos a pensar que, se os compostos que encontramos inibiam as mitocôndrias, eles também matariam as bactérias. Portanto, esses novos agentes anticancerígenos também devem ser antibióticos em potencial."

A equipe vasculhou mais de 45.000 compostos usando uma estrutura tridimensional do ribossoma mitocondrial. Eles identificaram 800 moléculas potencialmente capazes de inibir as mitocôndrias e, dessas, chegaram a 10 mais promissoras. Estas 10 foram então testadas usando a triagem fenotípica tradicional de drogas.

Mitorriboscinas

Os resultados mostraram que esses fármacos sintéticos - sem qualquer engenharia química adicional - inibem um amplo espectro de 5 tipos de bactérias comuns, incluindo Streptococcus, Pseudomonas, E. coli e Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Os compostos também matam o fungo patogênico Candida albicans.

Os novos antibióticos foram batizados de "mitorriboscinas" porque foram encontrados alvejando o ribossomo mitocondrial em células cancerosas humanas. Todas as mitorriboscinas descobertas até agora são igual ou mais potentes do que os antibióticos padrão.

"Isto estava debaixo do nosso nariz. O gargalo com a descoberta de antibióticos é que não havia um ponto de partida sistemático óbvio. Agora podemos ter um. Esses antibióticos de amplo espectro foram descobertos simplesmente selecionando os candidatos em mitocôndrias de células cancerosas," finalizou o professor Lisanti.

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