27/11/2015

Nova geração de probióticos poderá personalizar medicina

Com informações da USP
Nova geração de probióticos poderá personalizar medicina
As bactérias comensais, ou bactérias benéficas variam de indivíduo para indivíduo, ou seja, cada pessoa tem seu próprio time de bactérias saudáveis.
[Imagem: Nair/Abt/Artis/UPenn]

Saúde do equilíbrio

Pesquisadores estão trabalhando no desenvolvimento de uma nova geração de probióticos que possam permitir a manipulação da microbiota intestinal de cada pessoa individualmente.

Essa nova forma de personalização da medicina atuaria não de forma medicamentosa, mas rumo a um equilíbrio da saúde do indivíduo, envolvendo sobretudo a alimentação.

"Um dos interesses da comunidade científica é essa interface entre dieta e microbiota, porque a modulação da dieta seria um ponto de acesso bem fácil e com menos efeitos colaterais do que a administração de medicamentos ou afins", explica o professor Chris Hoffmann, da USP.

Segundo ele, há uma relação entre dieta e microbioma a longo prazo. "Esse efeito dos hábitos alimentares da pessoa a longo prazo é muito mais forte do que o efeito daquilo que ela comeu 'ontem'. O que ela ingeriu ontem tem um impacto momentâneo. Mas como tudo no corpo humano tende a buscar a homeostase, a tendência é uma volta ao equilíbrio", diz ele.

Microbiomas

Hoffmann explica que ao menos dois padrões de alimentação estão claramente conectados com microbiomas intestinais distintos: a dieta rica em carboidratos e a dieta rica em proteínas de origem animal.

"Nós sabemos, por exemplo, que uma dieta com muita carne vermelha rica em gordura dá propensão à arteriosclerose, risco cardiovascular, aumenta o colesterol. Entretanto ainda existiam algumas lacunas em como tais dietas causavam estas doenças. Agora, algumas dessas lacunas estão sendo preenchidas por esse link do microbioma intestinal," resume.

Segundo ele, uma pessoa normal tem uma composição definida de microrganismos, e que essa população de bactérias comensais - a microbiota - está sendo modificada pela adoção de comidas industrializadas. "Nos EUA e Europa, onde as dietas são muito manipuladas, percebemos que o padrão da microbiota não é o mesmo, se comparado a locais na América do Sul e África, onde a dieta não é tão processada," explica.

Probióticos de nova geração

Uma das principais ferramentas para atuação dessa medicina integral e personalizada está em uma nova geração de probióticos.

"O que há de novo é que a próxima geração de probióticos que chegará ao mercado é completamente distinta do que já existe. O que temos hoje são produtos que, muitas vezes, levam em consideração grupos bacterianos que a gente não tem como adulto no nosso intestino. Fazem efeito? Em algumas pessoas sim, em outras não. Um bom exemplo são as bifidobactérias, presentes nos probióticos mais famosos que conhecemos. As crianças as têm, mas os adultos geralmente têm poucas," explicou.

"Em vez de alimentar as pessoas com as bactérias, a ideia aqui é alimentar as bactérias que estão precisando ser incentivadas, com compostos criados exclusivamente para isso. É outra via de manipulação de microbiota", aponta Hoffmann.

"Uma grande tendência hoje é a chamada personalização da medicina. Com o acesso ao genoma humano, a gente sabe qual é a fisiologia básica. Mas existem condições e características que são bem específicas de cada pessoa, ou grupo. A personalização da medicina tem de levar em conta toda a fisiologia do organismo e o estudo da microbiota intestinal certamente poderá contribuir para isso," concluiu.

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