Falsos produtos e tratamentos com células-tronco
Você se lembra das primeiras promessas das pesquisas com células-tronco?
Elas não se tornaram realidade ainda - e há cada vez mais ceticismo de que muitas sequer sejam possíveis - mas têm surgido diversas denúncias de falta de ética nas pesquisas com células-tronco, além de preocupações com o rumo daquelas pesquisas na área que estão avançando.
O professor Leigh Turner, da Universidade de Califórnia de Irvine, monitora isso desde 2016.
Ele acaba de publicar sua mais recente revisão do assunto, onde relata que o número de empresas e clínicas médicas que estão vendendo produtos de células-tronco não aprovados pelas autoridades de saúde dos EUA (FDA) multiplicou-se por quatro desde o início do estudo - todos produtos sem evidências convincentes de segurança e eficácia.
Usando ferramentas simples, como pesquisas na internet e o Google Maps, Turner encontrou 1.480 empresas e 2.754 clínicas médicas vendendo supostos tratamentos com células-tronco, em comparação com 351 empresas e 570 clínicas em 2016.
"Uma das características mais preocupantes deste mercado é que as empresas que vendem produtos de células-tronco não comprovados e não aprovados pela FDA costumam usar declarações falsas de marketing e táticas de vendas agressivas para explorar a esperança, o sofrimento, o medo ou o desespero dos pacientes," disse Turner.
Mentiras e marketing predatório
A terapia com células-tronco, ou medicina regenerativa, já gerou tratamentos para pacientes com certos tipos de câncer e doenças relacionadas ao sangue, como leucemia, linfoma e mieloma múltiplo.
No entanto, a maioria dos produtos de células-tronco são, atualmente, de natureza experimental, e sua segurança e eficácia continuam a precisar de testes em ensaios clínicos bem planejados e rigorosamente conduzidos.
A análise de Turner descobriu que os tipos de supostos tratamento oferecidos variam de reivindicações para aliviar a dor (85%), doenças e lesões ortopédicas (46%) e lesões relacionadas ao esporte (22%) até queda de cabelo e antienvelhecimento. Alguns até afirmam estimular o sistema imunológico como forma de proteção contra o vírus SARS-CoV-2.
"Muitas dessas 'clínicas' estão promovendo produtos de células-tronco não licenciados e não comprovados e afirmam que suas intervenções não requerem a aprovação da FDA," contou Turner. "No entanto, isso não poderia estar mais longe da verdade. Descobri que há uma ampla promoção de produtos que, de fato, exigem autorização pré-comercialização da FDA. Em muitos casos, essas clínicas estão usando publicidade enganosa e técnicas de marketing predatório."
Desperdício de dinheiro e riscos
O estudo também mostra que os pacientes estão gastando milhares de dólares nesses produtos não comprovados.
Os custos diretos variam de US$ 1.200 a US$ 28.000 por "tratamento", com um preço médio de cerca de US$ 5.100. Ainda mais alarmante é que produtos de células-tronco não comprovados e não aprovados representam vários riscos para os pacientes e causaram sérios danos a alguns indivíduos.
"Este mercado também representa ameaças ao bem coletivo ao minar a saúde pública, o avanço do conhecimento científico, a confiança nas instituições públicas e o entendimento público necessário para que os cidadãos sejam capazes de distinguir intervenções com células-tronco baseadas em evidências de produtos sem suporte por segurança convincente e dados de eficácia," disse Turner.
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