28/04/2008

Plantas nativas podem recuperar solos poluídos

Leonardo Zanon - Agência USP

Fitorremediação

Utilizar espécies vegetais nativas para a recuperação de solos poluídos com mercúrio, chumbo, níquel e outros metais. Este é objetivo de uma pesquisa do Instituto de Geociências (IGc) da USP.

A fitorremediação, técnica ainda pouco conhecida no Brasil, poderá ser utilizada na descontaminação de áreas industriais ou de mineração. O método é mais barato em relação aos procedimentos convencionais e ainda pode permitir, em alguns casos, a reutilização dos metais recolhidos.

As pesquisas com fitorremediação estão sendo feitas pelo pós-doutorando Fábio Netto Moreno. Seu trabalho de doutorado, sobre o mesmo tema, recebeu prêmio de melhor pesquisa estrangeira na Nova Zelândia, onde defendeu sua tese. De volta ao Brasil, procurou o professor Joel Barbujiani Sígolo, do IGc, para continuar suas pesquisas na USP. "Resolvemos juntar os conhecimentos do Fábio em biologia aos meus, em geologia", explica Sígolo, supervisor da atual pesquisa.

Fitoextração

O projeto aborda duas vertentes da fitorremediação. Na primeira, chamada fitoextração, a descontaminação ocorre quando a vegetação plantada no local captura para si os elementos contaminantes. "Algumas espécies possuem maior resistência e afinidade com determinado tipo de metal", explica o professor Sígolo. "Para cada metal é preciso escolher um consórcio de vegetação mais adequado à remediação".

Por intermédio de um processo chamado de hiper-acumulação de metais, certas espécies de plantas conseguem uma concentração de metal superior à do solo e, por meio de ciclos de plantio e colheita, ocorre a descontaminação. "Acredita-se que algumas espécies foram beneficiadas na seleção natural por utilizarem a hiper-acumulação como defesa contra predadores e também na disputa por espaço", complementa Moreno. O metal acumulado seria uma forma de tolerância adquirida pela planta e também um jeito de evitar ataques de larvas e insetos, sensíveis ao material.

Fitoestabilização

No outro método, a fitoestabilização, além das espécies adequadas, também são utilizadas substâncias inertizantes. Estas substâncias reagem com os metais presentes no solo, reduzindo a toxidade e permitindo o desenvolvimento da vegetação no ambiente contaminado. "Os inertizantes diminuem a disponibilidade do poluente para as plantas e estabilizam os metais próximos à superfície, impedindo sua descida aos lençóis freáticos e também a dispersão pelo vento", explica Moreno.

"É formado um agregado entre as raízes, o inertizante e os poluentes, estabilizando-os", esclarece o pós-doutorando. Neste caso, a contaminação é apenas controlada, não sendo retirada do local. Para atuar como inertizantes, são utilizados alguns óxidos de ferro, e mais recentemente foram feitos testes com turfa: um composto orgânico que, além de se ligar quimicamente aos metais, acelera o crescimento da vegetação.

Procura de jazidas minerais

A utilização de plantas para descontaminação do solo apareceu de um princípio inverso: a procura de jazidas de minério pela observação da vegetação. Uma maior incidência de determinada espécie na região pode indicar grandes quantidades do minério. "Na procura por zinco, percebeu-se que algumas plantas só cresciam perto de terrenos com maior incidência deste elemento. A planta procura o metal. Então passaram a procurar as jazidas observando onde cresciam essas plantas", esclarece o professor.

Ameaça ao bioma

Os consórcios de vegetações utilizados na Nova Zelândia ou nos Estados Unidos, por exemplo, não podem ser aplicados no Brasil. Isto porque a utilização de espécies exóticas aos biomas brasileiros é uma prática perigosa. "Esta é uma limitação do processo. A vegetação inserida em outro ambiente poderia virar uma praga. Nós precisamos encontrar quais consórcios nativos do Brasil podem ser utilizados na remediação", alerta Sígolo. Além disso,os Estados Unidos vem utilizando espécies geneticamente modificadas para a fitorremediação, o que é proibido no Brasil.

Créditos de carbono

Além de ser um método mais barato e menos destrutivo, a fitorremediação oferece outras vantagens econômicas. Uma delas é a possibilidade de negociação dos créditos de carbono, pois a vegetação formada captura dióxido de carbono do ar e o fixa em sua estrutura. Também é possível reaproveitar, no caso dos metais, o material fitoextraído do solo. Metais de valor, como o níquel, ficam retidos na estrutura da planta, e podem ser recuperados em um dissecação. Após a descontaminação da matéria vegetal, esta ainda pode ser utilizada como biocombustível em caldeiras. A prática elimina quase que por completo os resíduos da remediação.

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