08/08/2022

Por que o populismo está em ascensão?

Com informações da Cordis

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Um artigo recente do jornal norte-americano Washington Post, comentando sobre a candidatura de Marine Le Pen nas recentes eleições presidenciais francesas, afirmou que: "O populismo tem um sotaque francês este mês".

Mas o que é o populismo e por que ele aparentemente se tornou um problema global?

"Embora não haja uma definição consensual de populismo, ele parece ser uma ideologia que divide a sociedade em uma luta entre 'o povo' e 'as elites'," opina o professor Jan Kubik, da Universidade Rutgers (EUA). "Afirmando expressar a vontade do povo, os políticos populistas minimizam a concentração de poder na mão de poucos. Os populistas de direita também denigrem os 'outros' com base em nacionalidade, religião, raça, orientação sexual ou identidade de gênero."

O professor Kubik argumenta que monitorar o número de partidos, líderes e discursos populistas, juntamente com os padrões de votação, mostra que estamos vivendo uma onda de populismo particularmente intensa.

Como ele explica: "A sabedoria predominante tem sido que, quando os populistas chegam ao poder, eles se dão mal e são rapidamente substituídos. Mas agora vemos governos populistas no Brasil, Hungria, Índia, Filipinas e Polônia, para não mencionar o recente 'Trumpismo' nos Estados Unidos," disse o pesquisador.

Por que o populismo voltou?

Então, o que mudou para explicar esse aumento?

Kubik aponta que cada região tende a ter seus próprios motivadores distintos: Na América Latina, em linhas gerais, é a corrupção; na Europa Ocidental, ela tende a ser centrada na imigração, enquanto na Europa Oriental pós-soviética Kubik a chamou de "fadiga de transformação retardada".

Referindo-se à Europa Oriental, Kubik vê em parte uma reação aos processos às vezes caóticos de reorganização pós-comunismo, com o neotradicionalismo ocupando o lugar do liberalismo.

Depois de estudar a República Tcheca, Hungria e Polônia, Kubik cita o ressentimento das pessoas atingidas pelas mudanças dramáticas, culturais, sociais e políticas, juntamente com um afastamento das noções tradicionais de família e dos papéis sexuais, tudo exacerbado pela crise econômica de 2008.

"Também podemos falar sobre o ressentimento masculino branco, alimentado pela crescente desigualdade e pela diminuição das oportunidades de emprego," observa Kubik.

E essa mistura pode levar a um sentimento de desorientação, estendendo-se além dos aspectos político e econômico, para o cultural e social, ao mesmo tempo mexendo com questões mais profundas de identidade e pertencimento. Além disso, a mídia social oferece uma câmara de eco eficaz para exacerbar a raiva.

O problema do populismo

Mas, se o populismo é uma expressão da vontade do povo, qual é o problema?

"Não há democracia que não seja uma democracia liberal. Um componente fundamental é a proteção dos direitos das minorias. Normalmente não vemos isso com governos populistas," cita Kubik.

De fato, o trabalho de Kubik rastreou como o aumento do populismo levou ao aumento da perseguição das mulheres, migrantes e cidadãos LGBT.

Outra marca populista é uma tentativa de remover o equilíbrio social. Isso pode vir na forma de instigar procedimentos de votação favoráveis ou tentativas de desmantelar, cooptar ou atacar instituições culturais. "Além da política, essas tentativas visam controlar as instituições culturais e a memória histórica," acrescentou Kubik.

Então, que esperança há para o futuro?

O pesquisador cita medidas práticas como: Proteger a descentralização das eleições, manter a política local, onde os populistas normalmente não se dão bem; assegurar a separação entre Igreja e Estado e evitar que as instituições culturais dependam exclusivamente do apoio do Estado.

Mas, em última análise, ele coloca sua fé na sociedade civil, na mobilização de base, especialmente das mulheres jovens. "Nós vimos uma disposição nos Estados Unidos durante o mandato de Trump, de defender valores e direitos. Esse legado continua vivo, mas precisa de apoio. Sou um pessimista no curto prazo, mas otimista no longo prazo," concluiu Kubik.

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