10/11/2025

Quando sonhamos profundamente, nosso cérebro parece acordar

Redação do Diário da Saúde
Quando sonhamos profundamente, nosso cérebro parece acordar

Monitoramento dos sonhos

Uma colaboração internacional, reunindo pesquisadores de todo o mundo, criou a maior base de dados a reunir registros da atividade cerebral durante o sono, com essa atividade estando associada a relatos de sonhos.

E uma das primeiras análises com base nessa qualidade e nesse volume inédito de dados revelou que, ao contrário do que os cientistas acreditaram durante décadas, os sonhos não ocorrem apenas durante o sono REM (movimento rápido dos olhos), mas também em fases não REM (NREM), mais profundas e mais calmas.

O curioso é que, nestes casos de sonhos durante o sono mais profundo, a atividade cerebral registrada lembra mais a vigília (quando a pessoa está acordada) do que o sono profundo - é como se o cérebro estivesse "parcialmente acordado" durante a fase mais profunda do sono, religando-se apenas para sonhar, mas sem interação com o mundo exterior.

O mistério dos sonhos

O interesse pelos sonhos remonta a milhares de anos, desde o antigo Egito, atravessando todas as culturas e tradições. E, além de os sonhos despertarem uma enorme curiosidade popular, seu estudo tem um elevado interesse científico, na medida em que alimenta diversas áreas de pesquisa, incluindo temas clínicos (como as parassônias, de que o sonambulismo é um exemplo), neurocognitivos (como aprendizagem e memória) e fundamentais (como os correlatos neuronais da consciência).

Inúmeros estudos têm sido realizados sobre o que ocorre no cérebro humano durante o sonho, contribuindo para avanços significativos na exploração científica da consciência humana. No entanto, até hoje nunca havia sido feita uma integração de dados objetivos e subjetivos que permitisse analisar os dados coletados dos pacientes de forma abrangente.

Foi para isso que o consórcio internacional obteve apoio da Fundação Bial (Portugal) para criar a DREAM, a maior base de dados a reunir registros da atividade cerebral durante o sono e os relatos de sonhos associados. Esta coleção única permitirá estudar os sonhos em uma escala e um rigor nunca alcançados, resolvendo um dos maiores desafios da investigação nesta área, a escassez de amostras de dados extensas, comparáveis e acessíveis.

Reunindo registros multicêntricos de eletroencefalografia (EEG), magnetoencefalografia (MEG) e relatos de sonhos, a DREAM integra mais de 2600 despertares, de 505 participantes, provenientes de 20 estudos diferentes e está disponível para consulta livre e recebendo novas informações de pesquisas de todo o mundo.

Quando sonhamos profundamente, nosso cérebro parece acordar
Já existem empresas querendo colocar anúncios nos seus sonhos.
[Imagem: Oscar Rosello]

Adivinhando seus sonhos

As primeiras análises, publicadas agora, revelaram resultados surpreendentes ao confirmarem que os sonhos não são exclusivos do sono REM (a fase em que o cérebro está mais ativo e os olhos se movem rapidamente), mas também ocorrem durante o sono NREM, nas fases mais profundas e calmas.

Curiosamente, quando há sonhos em NREM, a atividade cerebral é mais parecida com a da vigília do que com o sono profundo.

Além disso, algoritmos de inteligência artificial usados para analisar os padrões da atividade cerebral antes de cada despertar revelam que é possível prever se a pessoa está a sonhando ou não em cada momento. Esta abordagem poderá, no futuro, permitir identificar com maior precisão não só quando estamos sonhando, mas até mesmo que tipo de experiência estamos vivenciando durante o sono.

Checagem com artigo científico:

Artigo: A dream EEG and mentation database
Autores: William Wong, Rubén Herzog, Kátia Cristine Andrade, Thomas Andrillon, Draulio Barros de Araujo, Isabelle Arnulf, Somayeh Ataei, Giulia Avvenuti, Benjamin Baird, Michele Bellesi, Damiana Bergamo, Giulio Bernardi, Mark Blagrove, Nicolas Decat, Çagatay Demirel, Martin Dresler, Jean-Baptiste Eichenlaub, Valentina Elce, Steffen Gais, Luigi De Gennaro, Jarrod Gott, Chihiro Hiramatsu, Bjørn Erik Juel, Karen R. Konkoly, Deniz Kumral, Célia Lacaux, Joshua J. LaRocque, Bigna Lenggenhager, Remington Mallett, Sérgio Arthuro Mota-Rolim, Yuki Motomura, Andre Sevenius Nilsen, Valdas Noreika, Delphine Oudiette, Fernanda Palhano-Fontes, Jessica Palmieri, Ken A. Paller, Lampros Perogamvros, Antti Revonsuo, Elaine van Rijn, Serena Scarpelli, Monika Schönauer, Sarah F. Schoch, Francesca Siclari, Pilleriin Sikka, Johan Frederik Storm, Hiroshige Takeichi, Katja Valli, Erin J. Wamsley, Jennifer M. Windt, Jing Zhang, Jialin Zhao, Naotsugu Tsuchiya
Publicação: Nature Communications
Vol.: 16, Article number: 7495
DOI: 10.1038/s41467-025-61945-1
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