28/06/2021

Empresas querem colocar anúncios em seus sonhos

Com informações da Science
Empresas querem colocar anúncios em seus sonhos
Já existem aparelhos prometendo ajudar a ter sonhos lúcidos, que têm ajudado a comprovar que é possível comunicar-se com pessoas durante o sonho.
[Imagem: Oscar Rosello]

Manipulação dos sonhos

Se você já se matou de estudar na noite anterior a um exame, pode ter acabado fazendo algo que os pesquisadores dos sonhos vêm tentando há décadas: Injetar conhecimento nos seus sonhos.

Esses esforços já tiveram alguns vislumbres de sucesso no laboratório.

Agora, contudo, marcas como Xbox, Coors e Burger King estão se unindo a alguns cientistas para tentar algo semelhante: Criar anúncios "engenheirados" nos sonhos dos consumidores, por meio de clipes de áudio e vídeo.

Em reação a esse desvio de propósitos em relação às pesquisas na área, um grupo de 40 pesquisadores dos sonhos divulgou uma carta aberta pedindo a regulamentação da manipulação comercial dos sonhos.

"A incubação da publicidade nos sonhos não é um truque divertido, mas uma ladeira escorregadia com consequências reais. Nossos sonhos não podem se tornar apenas mais um parque de diversões para anunciantes corporativos," escrevem Robert Stickgold e seus colegas.

Incubação de sonhos

A incubação de sonhos, na qual as pessoas usam imagens, sons ou outras dicas sensoriais para moldar suas visões noturnas, tem uma longa história. No mundo antigo foram criados rituais e técnicas para mudar intencionalmente o conteúdo dos sonhos por meio de meditação, pintura, oração e até mesmo uso de drogas.

Os gregos que adoeciam no século IV a.C. iam dormir em camas de barro nos templos do deus Asclépio, na esperança de entrar na enkoimesis (incubação), um estado de sonho induzido no qual eles esperavam que lhes fosse revelado o que fazer ou o que tomar para se curarem.

A ciência moderna abriu um novo mundo de possibilidades. Os pesquisadores agora podem identificar quando a maioria das pessoas entra no estágio do sono em que ocorre grande parte dos nossos sonhos - o estado de movimento rápido dos olhos (REM) - monitorando as ondas cerebrais, os movimentos dos olhos e até mesmo o ronco.

Eles também mostraram que estímulos externos, como sons, cheiros, luzes e fala, podem alterar o conteúdo dos sonhos. E também conseguiram gravar o conteúdo de sonhos.

Finalmente, este ano, os pesquisadores se comunicaram diretamente com os sonhadores lúcidos - pessoas que estão cientes enquanto estão sonhando - fazendo com que respondessem a perguntas e resolvessem problemas matemáticos enquanto dormiam.

"As pessoas são particularmente vulneráveis [à sugestão] enquanto dormem," disse o professor Adam Haar.

Manipulação dos sonhos

O professor Haar contou que foi contatado por três empresas nos últimos 2 anos, incluindo a Microsoft e duas companhias aéreas, pedindo sua ajuda em projetos de incubação de sonhos - ele ficou famoso ao inventar uma luva que rastreia os padrões de sono e orienta seus usuários a sonhar com assuntos específicos, reproduzindo sinais de áudio quando a pessoa adormecida atinge um estágio de sono suscetível..

Ele ajudou em um projeto relacionado a jogos, mas diz que não se sentia confortável em participar de nenhuma campanha publicitária.

Contudo, nem todos os cientistas se mostraram tão éticos, e a equipe afirma ter conhecimento de projetos envolvendo membros da academia trabalhando para atingir objetivos de propaganda e marketing.

Os autores da carta afirmam que, como não há regulamentos que tratem especificamente da propaganda dentro dos sonhos, as empresas poderão vir a usar alto-falantes inteligentes, como o Alexa, para detectar os estágios do sono das pessoas e reproduzir sons que possam influenciar seus sonhos e comportamentos.

"É fácil imaginar um mundo no qual alto-falantes inteligentes se tornem instrumentos de propaganda passiva e inconsciente da noite para o dia, com ou sem nossa permissão," diz a carta.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Advertising in Dreams is Coming: Now What?
Autores: Robert Stickgold, Antonio Zadra, A. J. H. Haar
Cheque você mesmo: https://dxe.pubpub.org/pub/dreamadvertising
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