Uma pesquisa realizada com pacientes com câncer e profissionais de saúde revelou a importância da religiosidade e da fé na luta contra a doença.
A psicóloga Joelma Ana Espíndula, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, mostrou como pacientes reencontram o sentido da vida e fortalecem laços familiares por intermédio da aproximação com a religião.
Religiosidade dos doentes
O interesse da pesquisadora pelo assunto surgiu quando ela pesquisou a vivência das mães que se deparavam com o retorno do câncer em seus filhos. "Nos discursos, as mães apresentaram a fé e a religiosidade como alívio, conforto e segurança para continuar lutando na vida", relembra Joelma.
Nesta nova etapa, a proposta inicial foi entrevistar pacientes com câncer, questionando como eles vivenciam a religiosidade e a fé, e como profissionais de saúde veem essa religiosidade dos pacientes, além da sua própria.
A pesquisa foi qualitativa, sendo entrevistados 12 pacientes em tratamento de câncer e 11 profissionais da oncologia (três médicos, quatro residentes, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem, um dentista e um psico-oncologista).
Questionando o sentido da vida
Os relatos revelaram a situação vivida pelos pacientes que, além da perda da saúde, perdem inúmeras qualidades pessoais e sociais, como autoestima, autonomia, integridade, emprego, capacidade de se relacionar com os outros.
Espiritualmente, eles passam a questionar o sentido da vida, que se apresenta como a esperança de ser curado e continuar a viver o presente no lugar que habita e com seus familiares.
E muitos estreitam suas relações com a religião e com a família buscando esse sentido. "Os pacientes significam a religião como um meio de suporte e sustento fundamental nos momentos de dor e sofrimento causados pelo câncer e por seu tratamento", explica Joelma.
Os pacientes percebem a comunidade religiosa como um apoio espiritual, no qual podem compartilhar seus sentimentos, conflitos e dores. "A religiosidade e a fé fazem a mediação entre Deus e as pessoas para ajudá-las, principalmente em condição de doença, a responderem às provocações que ocorrem na vida" analisa a pesquisadora.
"Mesmo naqueles que não participavam de nenhuma religião, surgiu, a partir da doença, a necessidade de se buscar uma, pela qual tinham maior afinidade ou onde se sentiam bem acolhidos e recebidos", lembra a pesquisadora.
Religião entre os profissionais de saúde
Com os profissionais de saúde, mais da metade não segue nenhuma religião. Porém, todos reconhecem a importância da religião e da fé para o paciente e sua família.
"Mas fé e religião devem ser vividas como sustento, proteção e prudência, sempre aderindo à realidade" ressalta Joelma.
Retorno à vida
Um dos casos pesquisados foi o do médico Rafael (nome fictício), que acompanhou um paciente com um osteossarcoma. O profissional se envolveu afetivamente com ele.
"Recordo o que me aconteceu no hospital, e me abalou. Foi um paciente que estava no centro cirúrgico, e eu achei que não ia sobreviver. A equipe médica tinha considerado ele como morto e, sem nenhuma explicação ele voltou a respirar de novo. Nesta hora a minha fé foi abalada, me pegou de surpresa, fiquei impressionado com aquilo", relatou o médico durante a entrevista com Joelma.
Sentido religioso
Segundo a pesquisadora, as entrevistas apontaram que todo homem tem dentro de si o sentido religioso e, ao estar aberto a este sentido, busca por meio das experiências vividas, tornar-se mais consciente de si mesmo. "É esse sentido que se manifesta em suas atitudes em relação a si mesmo e ao mundo" conclui.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Espiritualidade | Câncer | Sentimentos | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.