26/01/2018

Como um robô descobriu que substância de dentifrício cura malária

Redação do Diário da Saúde
Como um robô descobriu que dentifrício pode curar malária
Este é o robô cientista Eva.
[Imagem: Ross King/University of Manchester]

Robô cientista

Um ingrediente comum, usado na fabricação das pastas de dente, pode ser empregado como um fármaco contra cepas de parasitas da malária que se tornaram resistentes a um dos medicamentos mais usados atualmente.

E a descoberta não foi feita diretamente por cientistas - ela foi feita por Eva, uma robô cientista que funciona com programas de inteligência artificial e comanda um laboratório automatizado.

A cientista robótica Eva vem sendo desenvolvida há vários anos por uma equipe das universidades de Manchester, Aberystwyth e Cambridge (Reino Unido) para automatizar - e, portanto, acelerar - o processo de descoberta de novos medicamentos.

O robô testa automaticamente hipóteses para explicar observações, executa experiências usando um laboratório integrado, interpreta os resultados e então ajusta suas hipóteses iniciais. Esse ciclo é repetido continuamente até que a hipótese seja confirmada ou descartada.

Triclosan

Além de não existirem muitas alternativas de medicamentos para tratar a malária, os parasitas causadores da doença estão ficando cada vez mais resistentes a essas drogas, acenando com o espectro de malárias intratáveis no futuro.

A cientista robô Eva estava testando uma série de substâncias quando descobriu que o triclosan, um ingrediente encontrado em muitos cremes dentais e outros produtos de higiene pessoal, pode ajudar a combater a resistência dos parasitas às drogas antimalária.

Quando usado na pasta de dentes, o triclosan previne a acumulação de bactérias na placa dental, inibindo a ação de uma enzima conhecida como ENR (enoil redutase), envolvida na produção de ácidos graxos.

Os cientistas já sabiam há algum tempo que o triclosan também inibe o crescimento do parasita da malária Plasmodium em cultura durante o estágio sanguíneo, e vinham assumindo que isso acontece porque a substância estaria alvejando a ENR, que é encontrada no fígado. No entanto, pesquisas posteriores mostraram que melhorar a capacidade do triclosan de atingir a ENR não teve efeito sobre o crescimento do parasita no sangue.

Triclosan contra malária

Foi por isso que eles apelaram para Eva, que acabou descobrindo que, na verdade, o triclosan afeta o crescimento do parasita inibindo uma enzima do parasita da malária completamente diferente, chamada DHFR (di-hidrofolato redutase). A DHFR é o alvo de um medicamento antimalária bem conhecido, a pirimetamina. No entanto, os parasitas da malária já estão desenvolvendo largamente a resistência a essa droga, principalmente na África.

De posse dos resultados do robô, a equipe de cientistas humanos confirmou que o triclosan alcança e atua sobre esta enzima mesmo em parasitas resistentes às pirimetinas.

Como o triclosan inibe tanto a ENR como a DHFR, os pesquisadores afirmam que ele permitirá atingir o parasita tanto no estágio do fígado, quanto no estágio tardio do sangue.

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