19/09/2023

Robôs não precisam ser parecidos com humanos para confiarmos neles

Redação do Diário da Saúde
Robôs não precisam ser parecidos com os humanos para confiarmos neles
O trabalho sai mais rápido e com melhor qualidade quando os robôs não têm olhos.
[Imagem: Artur Pilacinski et al. - 10.1016/j.heliyon.2023.e18164]

Vemos melhor robôs sem olhos

O fato de um robô ter ou não ter olhos, sejam funcionais ou não, influencia a confiança que os humanos depositam nele - e influencia de um modo inesperado.

Ao avaliar o nível de confiança dos humanos em relação aos robôs durante uma tarefa colaborativa, pesquisadores descobriram que os humanos não necessitam que as máquinas sejam parecidas com humanos para confiar e trabalhar com elas - aliás, parecem até colaborar melhor com máquinas que se parecem com máquinas, isto é, sem olhos.

Sendo os seres humanos uma espécie colaborativa, os olhos representam um elemento crítico para a vida social humana, comunicando intenções e permitindo que o parceiro de interação interprete e se adapte a essas intenções.

Assim, se o olhar é um guia preditivo para as ações humanas, Artur Pilacinski e seus colegas da Alemanha e de Portugal queriam saber até que ponto os olhos podem ter a mesma importância quando se trata da colaboração entre humanos e máquinas.

Robôs colaborativos

A atenção dos pesquisadores se voltou para os chamados cobots, ou robôs colaborativos, criados para ajudar os humanos em tarefas rotineiras ou perigosas em setores industriais ou médicos.

Alguns cobots são projetados com olhos e uma aparência mais antropomórfica para melhorar a naturalidade da sua interação com os humanos. Por exemplo, a empresa Rethink Robotics incluiu olhos nos seus cobots Baxter e Sawyer com o objetivo de aumentar a sensação de conforto dos utilizadores.

Com a ajuda de 38 voluntários, entre 18 e 42 anos, os pesquisadores usaram medidas subjetivas e objetivas (frequência cardíaca, tamanho da pupila e velocidade de execução) para avaliar o nível de confiança dos humanos nos robôs durante uma tarefa colaborativa, em função de estes terem ou não olhos.

Objetivamente, melhor sem olhos

Embora os participantes relatem uma confiança ligeiramente maior nos robôs com olhos, eles executaram a tarefa mais rapidamente e mostraram pupilas mais dilatadas (um possível indicador de maior interesse no objeto) quando interagiram com robôs sem olhos.

Os dados parecem então sugerir que os humanos não necessitam que as máquinas sejam parecidas com humanos para confiar e trabalhar com elas. Em vez disso, parece que colaboramos melhor com máquinas que se parecem com máquinas, isto é, sem olhos.

"Concluímos que o olhar do cobot pode não ser assim tão importante para a colaboração manual," disse Pilacinski, salientando que "as métricas objetivas, como o tempo de conclusão da tarefa e as respostas pupilares dos participantes, sugerem uma cooperação mais confortável com robôs sem olhos".

Checagem com artigo científico:

Artigo: The robot eyes don't have it. The presence of eyes on collaborative robots yields marginally higher user trust but lower performance
Autores: Artur Pilacinski, Ana Pinto, Soraia Oliveira, Eduardo Araújo, Carla Carvalho, Paula Alexandra Silva, Ricardo Matias, Paulo Menezes, Sonia Sousa
Publicação: Heliyon
Vol.: 9, Issue 8, e18164
DOI: 10.1016/j.heliyon.2023.e18164
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