04/01/2019

Por que sentimos prazer com a desgraça dos outros?

Redação do Diário da Saúde
Schadenfreude: O prazer com a desgraça dos outros
O pintor espanhol Eduardo Zamacois y Zabala registrou com mestria a schadenfreude, mostrando que todos parecem ter um lado sombrio da personalidade.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Schadenfreude

Por que chegamos a ter prazer quando vemos as coisas darem errado para outras pessoas?

Esse sentimento é tão pouco reconhecido que poucos idiomas têm sequer um nome para ele.

É por isso que os cientistas e psicólogos costumam chamá-lo pelo seu nome em alemão, schadenfreude (pronuncia-se chadenfroid), que poderia ser traduzido como "prazer com a desgraça do outro".

O professor Shensheng Wang, da Universidade Emory (EUA), afirma que, ainda que mal compreendida, essa emoção não apenas é comum, como pode fornecer uma janela valiosa para conhecermos o lado mais sombrio da humanidade.

Wang e sua equipe revisaram três décadas de pesquisa social, desenvolvimental, de personalidade e clínica, a fim de elaborar uma nova estrutura para explicar sistematicamente a schadenfreude.

Como conclusão, eles sugerem uma teoria unificadora e motivacional: as preocupações de autoavaliação, identidade social e justiça são os três motivadores que levam as pessoas em direção ao "prazer pela desgraça do outro". O que afasta as pessoas da schadenfreude, por outro lado, é a capacidade de sentir empatia pelos outros e de percebê-los como totalmente humanos.

Desumanização

A equipe propõe que a "alegria causada pela tristeza do outro" compreende três subformas separáveis, mas inter-relacionadas - agressão, rivalidade e justiça. Cada uma tem origens distintas de desenvolvimento e correlatos de personalidade, mas todas têm algo em comum.

"A desumanização parece estar no centro da schadenfreude," disse Wang. "Os cenários que provocam a schadenfreude, como os conflitos intergrupais, tendem também a promover a desumanização."

Desumanização é o processo de perceber uma pessoa ou grupo social como carente dos atributos que definem o que significa ser humano. Ela pode variar de formas sutis, como assumir que alguém de outro grupo étnico não sente toda a gama de emoções que os membros do próprio grupo, até formas flagrantes, como comparar criminosos a animais. Indivíduos que regularmente desumanizam os outros podem ter uma disposição para isso. A desumanização também pode ser situacional, como soldados desumanizando o inimigo durante uma batalha.

"Nossa revisão da literatura científica sugere fortemente que a propensão a experimentar a schadenfreude não é inteiramente única, mas que se sobrepõe substancialmente a vários outros traços 'sombrios' de personalidade, como sadismo, narcisismo e psicopatia," acrescentou o professor Scott Lilienfeld, coautor do estudo. "Além disso, diferentes subtipos de schadenfreude podem se relacionar de maneira um pouco diferente com esses traços frequentemente malévolos".

A pesquisa foi publicada na revista científica New Ideas in Psychology.

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