19/02/2020

Ter amigos poderosos diminui disposição para defender os fracos

Redação do Diário da Saúde
Ter amigos poderosos pode torná-lo menos inclinado a defender os fracos
Mesmo o modo de falar sobre desigualdade muda a ética das pessoas para resolvê-la.
[Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil]

Interação entre privilegiados e desfavorecidos

Por mais de 50 anos, pesquisadores sociais e formuladores de políticas acreditam que ter membros de diferentes grupos interagindo entre si pode ser uma ferramenta eficaz para reduzir o preconceito e criar confiança mútua.

Para examinar essa ideia, pesquisadores realizaram uma investigação estatística sobre se e como o contato entre os grupos pode ajudar a promover o apoio à mudança social, em busca de uma maior igualdade social.

Eles coletaram respostas de quase 13.000 indivíduos em 69 países, incluindo pessoas de grupos sociais favorecidos (maiorias étnicas ou religiosas e pessoas heterossexuais) e membros de grupos minoritários socialmente desfavorecidos como resultado de sua origem étnica ou religiosa, orientação sexual ou identidade de gênero.

Querendo agradar

Os resultados indicam que, quando membros de grupos historicamente favorecidos interagem com grupos desfavorecidos, é mais provável que eles apoiem mudanças sociais em direção à igualdade. Por exemplo, indivíduos heterossexuais que experimentam contato positivo com indivíduos homossexuais, bissexuais ou transgêneros no trabalho ou em suas vidas privadas têm maior probabilidade de participar de manifestações, assinar petições, discutir desigualdades ou votar a favor de regras de não discriminação.

Contudo, para membros de grupos historicamente desfavorecidos, o que se observou foi a tendência inversa: Se eles tinham amigos ou conhecidos no grupo privilegiado, geralmente eram menos propensos a apoiar mudanças sociais para promover a igualdade que beneficiaria a eles próprios.

"Em outras palavras, se um imigrante tem interações positivas frequentes com pessoas da sociedade anfitriã, então essa pessoa pode estar menos consciente dos obstáculos que os imigrantes ainda enfrentam. Eles também estão menos comprometidos em eliminar essas desigualdades," explica Tabea Hässler, da Universidade de Zurique (Suíça).

Trabalhar em solidariedade

No entanto, os pesquisadores também apontam uma exceção importante em sua conclusão principal: Entre os membros tanto dos grupos privilegiados quanto dos grupos desfavorecidos, o contato entre os grupos leva a uma maior disposição de trabalhar em solidariedade para alcançar maior igualdade social - por exemplo, para assistir a uma demonstração juntos.

"Essa disposição de trabalhar em conjunto em solidariedade une pessoas de todos os grupos e pode oferecer um novo caminho para alcançar a coesão social e a mudança social," diz o professor Johannes Ullrich.

Além disso, os pesquisadores sugerem que os membros do grupo privilegiado que mantêm contato devem reconhecer abertamente as desigualdades estruturais e expressar apoio aos esforços dos membros desfavorecidos para reduzir essas desigualdades. Isso poderia incentivar seus amigos menos privilegiados a agir em benefício de todo o seu grupo, e não ficar achando que irão prejudicar seus amigos ricos.

"Afinal, a harmonia social não deve ser obtida à custa da justiça social," disse Ullrich.

Checagem com artigo científico:

Artigo: A large-scale test of the link between intergroup contact and support for social change
Autores: Tabea Hässler, Johannes Ullrich, Luiza Mugnol Ugarte
Publicação: Nature Human Behaviour
DOI: 10.1038/s41562-019-0815-z
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