23/03/2023

Conheça a vacina contra dengue aprovada no Brasil

Com informações da BBC
Vacina contra dengue aprovada no Brasil
A expectativa é que vacina Qdenga finalmente reduza o número de mortes por dengue.
[Imagem: Ministério da Saúde/BBC]

Vacina contra a dengue

Muito provavelmente, 2023 vai ficar marcado como o ano em que saíram as piores e as melhores notícias sobre a dengue até o momento.

Por um lado, o Brasil registra o surto mais mortal da doença desde que os dados começaram a ser compilados. Em 2022, foram 1.017 mortes por dengue no país, um recorde histórico. E os óbitos permanecem elevados nos primeiros meses deste ano.

Por outro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova vacina contra a dengue, que pode ser aplicada na população com idades de 4 a 60 anos, e mostrou uma eficácia de 80,2%, além de 90,4% de proteção contra hospitalizações.

A vacina, chamada Qdenga, foi desenvolvida pela empresa farmacêutica japonesa Takeda.

Vacina tetravalente

Para entender a dificuldade de se criar uma vacina contra a dengue, é necessário saber que o vírus transmissor da doença possui quatro sorotipos diferentes, conhecidos pelas siglas Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.

Na prática, isso significa que uma pessoa pode ser infectada com dengue até quatro vezes na vida, porque uma infecção só cria os anticorpos contra o tipo específico que a infectou.

A nova vacina é tetravalente, ou seja, resguarda contra esses quatro sorotipos.

Ela é feita a partir da tecnologia quimérica, em que os cientistas usam a estrutura do Denv-2 como uma espécie "esqueleto", sobre o qual são inseridas as informações genéticas das quatro versões do vírus da dengue.

As doses trazem esse vírus vivo atenuado, que é reconhecido pelas células de defesa e gera uma resposta imune capaz de proteger contra o patógeno de verdade.

O esquema vacinal contempla duas doses, que são aplicadas com um intervalo de três meses entre elas.

A vacina que não deu certo

Em 2015, várias agências regulatórias do mundo (incluindo a Anvisa) aprovaram a Dengvaxia, um imunizante contra a dengue desenvolvido pela farmacêutica Sanofi.

Acontece que, após algum tempo de uso, descobriu-se que esse imunizante poderia aumentar o risco de dengue grave em indivíduos que não haviam sido infectados com o vírus antes da vacinação.

Com isso, essas doses passaram a ser indicadas apenas para aquelas pessoas com histórico de dengue - assim, elas estariam mais protegidas caso fossem picadas pelo Aedes aegypti uma segunda, terceira ou quarta vez.

Mas, na prática, todas essas barreiras dificultaram o uso da Dengvaxia na saúde pública. Afinal, antes de aplicar o produto, é necessário fazer um exame de sangue para comprovar se o sujeito tem anticorpos contra algum sorotipo da dengue.

"Essa vacina aprovada anteriormente tem muitas limitações. Além da necessidade de um teste prévio, ela precisa de três doses, com um intervalo de seis meses, para oferecer proteção. Diante de tudo isso, nunca houve uma perspectiva de uso dela na saúde pública," avaliou o médico Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A nova vacina Qdenga não possui essa limitação, tendo-se mostrado segura também para pessoas que nunca contraíram o vírus.

Eficácia da vacina contra a dengue

Antes de receber o sinal verde das agências regulatórias, a Qdenga foi avaliada em 19 testes clínicos, que envolveram mais de 28 mil voluntários espalhados por várias partes do mundo, incluindo o Brasil.

Um dos estudos mais importantes dessa leva foi apelidado de Tides. Neste trabalho específico, os responsáveis pelo imunizante acompanharam mais de 20 mil vacinados durante quatro anos e meio.

Os resultados do Tides apontam que a Qdenga preveniu 80,2% dos casos de dengue sintomática após 12 meses da vacinação e evitou 90,4% das hospitalizações 18 meses após a aplicação das duas doses.

Na análise final, quando se completaram os quatro anos e meio de acompanhamento, o efeito das doses caiu um pouco: a eficácia contra casos sintomáticos baixou para 61% e contra hospitalizações ficou em 84%.

Durante esse período de análise, também não foram observados riscos maiores de complicações por dengue entre os voluntários, mesmo naqueles que nunca tiveram a doença.

Vale destacar, porém, que a eficácia variou de acordo com o sorotipo do vírus. Ela foi maior para o Denv-1 (69,8%) e o Denv-2 (95,1%) e menor para o Denv-3 (48,9%) - não foram observados casos suficientes de Denv-4 para estabelecer um resultado de eficácia significativo.

Esse fato é relevante para o Brasil, uma vez que os sorotipos um e dois são os mais frequentes no país.

Qdenga no SUS

Com a aprovação da Anvisa, a próxima etapa envolve a avaliação da vacina pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão do governo responsável por determinar qual preço será cobrado por cada dose.

Essa etapa costuma demorar cerca de três meses para ser concluída. Com o valor definido, o imunizante poderá então ser vendido no país. "Projetamos que a vacina contra a dengue estará disponível no Brasil a partir do segundo semestre de 2023, inicialmente nas clínicas privadas," disse Vivian Lee, diretora da Takeda no Brasil.

Para ser usada no Programa Nacional de Imunizações (PNI), a Qdenga precisará cumprir um terceiro rito: Ter uma análise favorável na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, a Conitec.

Segundo o Ministério da Saúde, a incorporação da Qdenga no PNI é "uma prioridade".

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