31/05/2023

Betabloqueadores não são sempre necessários após infarto

Redação do Diário da Saúde

Betabloqueadores tomados quando não são necessários

Os betabloqueadores são uma classe de medicamentos prescritos rotineiramente após um ataque cardíaco para diminuir o risco de recorrência e outras complicações cardiovasculares.

No entanto, um amplo estudo, que investigou mais de 43.000 adultos que tiveram ataques cardíacos, mostrou que, para pacientes com funcionamento normal do coração (isto é, aqueles que não tiveram insuficiência cardíaca ou complicações do ataque cardíaco), o tratamento com betabloqueadores por mais de um ano não trouxe nenhum ganho em termos de saúde cardíaca.

Os betabloqueadores são receitados principalmente para controlar ritmos cardíacos anormais, bem como angina e pressão alta. Eles são rotineiramente prescritos após um ataque cardíaco para diminuir o risco de recorrência e outras complicações cardiovasculares - uma prática conhecida como prevenção secundária.

Mas os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença nesses riscos entre os pacientes que tomaram betabloqueadores mais de um ano após o ataque cardíaco e aqueles que não tomaram essas drogas. E o tratamento de longo prazo com betabloqueadores não foi associado a melhores resultados cardiovasculares durante um período médio de monitoramento de 4,5 anos.

Depois de contabilizar fatores potencialmente influentes, incluindo dados demográficos e condições coexistentes relevantes, não houve diferença perceptível nas taxas de novos eventos cardiovasculares entre o grupo que tomava betabloqueadores e aqueles que não tomavam.

Além disso, os betabloqueadores apresentaram efeitos colaterais, principalmente depressão e fadiga, o que levou a equipe a defender que é hora de reavaliar o valor de usar os betabloqueadores a longo prazo como tratamento pós-ataque cardíaco para pacientes com coração funcionando normalmente.

Limitações e mais estudos

Embora seja o maior estudo desse tipo até o momento, os resultados devem ser vistos no contexto de certas limitações, reconhecem os pesquisadores.

Como foi um estudo observacional, que não permite estabelecer causas, os pacientes não foram designados aleatoriamente para o tratamento; apenas alguns desfechos cardiovasculares foram incluídos; não havia indicação de quão consistentemente os pacientes tomavam seus medicamentos e nem qualquer informação sobre sua qualidade de vida. E houve algumas diferenças entre os dois grupos em relação a fatores conhecidos por influenciar o risco de desfechos cardiovasculares ruins.

Mas, dizem os pesquisadores, os diversos efeitos colaterais, como depressão e cansaço, acendem um sinal de alerta.

"Recomendações sobre a duração da terapia com betabloqueadores são variáveis ou ausentes porque essa questão não foi avaliada especificamente em ensaios clínicos. A maioria dos pacientes toma medicamentos diariamente por muitos anos após [um ataque cardíaco] porque acredita que são benéficos".

"Este estudo levanta uma questão importante diretamente relevante para a qualidade do atendimento - os pacientes com um funcionamento cardíaco normal se beneficiam da terapia betabloqueadora de longo prazo após [ataque cardíaco]? Para responder a essa pergunta, são necessárias mais evidências de grandes ensaios clínicos randomizados," concluíram Divan Ishak e seus colegas da Universidade de Uppsala (Suécia).

Checagem com artigo científico:

Artigo: Association of beta-blockers beyond 1 year after myocardial infarction and cardiovascular outcomes
Autores: Divan Ishak, Suleman Aktaa, Lars Lindhagen, Joakim Alfredsson, Tatendashe Bernadette Dondo, Claes Held, Tomas Jernberg, Troels Yndigegn, Chris P. Gale, Gorav Batra
Publicação: Heart
DOI: 10.1136/heartjnl-2022-322115
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