21/10/2019

Desvendados estágios iniciais da doença de Parkinson

Redação do Diário da Saúde
Desvendados estágios iniciais da doença de Parkinson
"Uma pessoa desenvolve Parkinson ao longo de toda a vida. A conversão entre os estágios da proteína acontece lentamente e as estruturas intermediárias e os filamentos se acumulam por muito tempo."
[Imagem: Guilherme Oliveira/Jerson Silva]

Como começa o Parkinson

Usando técnicas de ponta em microscopia eletrônica, cientistas do Brasil e dos EUA identificaram estruturas proteicas que podem explicar o início precoce da doença de Parkinson.

Uma das maiores dificuldades no tratamento contra a doença neurodegenerativa progressiva é a falta de entendimento sobre o momento exato em que a enfermidade começa a se desenvolver.

Agora, pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Universidade da Virgínia (EUA) observaram, pela primeira vez, como diferentes variantes da alfa-sinucleína, proteína associada à enfermidade, interagem ao longo do tempo.

A partir disso, eles conseguiram identificar a formação inicial de agregados da proteína ligados aos casos precoces do Parkinson.

Compreender como essas estruturas se organizam é fundamental para identificar os estágios iniciais da doença. Já se sabe que a degeneração dos neurônios que leva ao aparecimento dos sintomas, como tremores e lentidão dos movimentos, está ligada ao acúmulo de agregados da alfa-sinucleína no cérebro, os chamados filamentos amiloides.

Antes de formarem tais filamentos, as proteínas passam por um estágio intermediário, os oligômeros, que também estão presentes nos cérebros dos pacientes com Parkinson. Apesar de conhecerem essas estruturas, os cientistas ainda não compreendem como seu surgimento se dá, nem seus graus de toxicidade para os neurônios.

"Uma pessoa desenvolve Parkinson ao longo de toda a vida. A conversão entre os estágios da proteína acontece lentamente e as estruturas intermediárias e os filamentos se acumulam por muito tempo. E não sabemos qual dos dois desencadeia o surgimento dos sintomas e é mais tóxico para as células," explicou o pesquisador Guilherme de Oliveira. "Se conseguirmos entender o início da conversão, poderemos desenvolver uma terapia para o tratamento precoce da doença."

Alfa-sinucleína

Os cientistas compararam a dinâmica de formação dessas neuroestruturas em quatro variantes da alfa-sinucleína, sendo três delas ligadas a casos hereditários precoces da doença de Parkinson e uma presente nos casos de envelhecimento. A partir daí, eles observaram diferenças significativas nos processos de agregação de cada variante da proteína e descobriram que, nos casos de Parkinson precoce, os estágios intermediários se formam em uma velocidade muito maior do que nos casos de envelhecimento. Isso pode explicar o surgimento dos sintomas em pessoas mais jovens.

Os pesquisadores também encontraram evidências de quais tipos de proteína são importantes para o surgimento dos filamentos amiloides e, mais do que isso, que os filamentos apresentam estruturas distintas, dependendo da variante da proteína da qual se originam.

"O interessante é que não só os estágios iniciais da conversão são diferentes, mas que alguns filamentos que se formam em casos de Parkinson precoce também são. Dependendo da mutação presente, esses filamentos se torcem de formas diferentes," explicou Jerson Lima Silva, membro da equipe.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Alpha-synuclein stepwise aggregation reveals features of an early onset mutation in Parkinson’s disease
Autores: Guilherme A. P. de Oliveira, Jerson L. Silva
Publicação: Communications Biology
Vol.: 2, Article number: 374
DOI: 10.1038/s42003-019-0598-9
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