08/01/2024

Comunicação pós-morte no luto tem forte efeito benéfico

Redação do Diário da Saúde
Comunicação pós-morte no luto tem forte efeito benéfico
O que a pessoa sente quando morre?
[Imagem: Tumisu/Pixabay]

Conforto de outro mundo

A comunicação pós-morte com pessoas falecidas é uma prática comum entre adeptos do Espiritismo e de outras religiões que acreditam na reencarnação, mas é um assunto muito menos presente na prática científica.

Dada a importância social da prática e aos relatos do bem que isso faz às pessoas, a Dra Jennifer Penberthy, da Universidade de Northampton (Reino Unido), reuniu uma equipe para testar não exatamente o fenômeno da comunicação pós-morte em si, mas os efeitos que a prática induz sobre os pacientes.

O experimento, envolvendo 70 indivíduos que vivenciaram a comunicação pós-morte com parceiros ou cônjuges falecidos, revelou que a larga maioria deles a considerou reconfortante (81%) e útil (84%) para o enfrentamento do luto. E quase metade (47%) dos voluntários afirmou que a prática facilitou a aceitação da perda da pessoa amada.

Comunicação pós-morte

No contexto deste estudo científico, a comunicação pós-morte foi definida pelos pesquisadores como um fenômeno espontâneo em que um indivíduo vivo tem um sentimento ou uma sensação de contato direto (não mediado, por exemplo, por um médium) com uma pessoa falecida.

Estudos indicam que, em todas as sociedades, entre 30 e 34% dos indivíduos experienciem pelo menos uma comunicação pós-morte durante a sua vida. Esses contatos têm sido relatados em diferentes culturas, raças, idade, estatuto socioeconômico, nível de escolaridade, gênero e crenças religiosas.

Os eventos podem manifestar-se de diversas formas, tais como sentir a presença da pessoa falecida através do olfato, visão, audição ou até do toque; experiências simbólicas (tocar uma música no rádio, flores desabrochando fora da estação etc.); experiências eletrônicas (receber um telefonema, um "Gostei" nas redes sociais ou um e-mail do falecido, algo que os cientistas chamam de "anomalias informáticas"); visitas ou mensagens em sonhos.

Terapia eficaz

Apesar do número relevante de relatos deste fenômeno, são ainda limitados os estudos que examinam o impacto das comunicações pós-morte nas pessoas que perderam parceiros. Foi neste contexto que a equipe conseguiu financiamento da Fundação BIAL, de Portugal, para desenvolver um estudo que consistiu na aplicação de um questionário online a 70 indivíduos que relataram comunicação pós-morte com parceiros falecidos.

Os dados revelaram que a maioria dos entrevistados considerou as experiências reconfortantes (81%) e úteis (84%). Para quase metade dos participantes (47%), as comunicações pareceram inclusive facilitar a aceitação da perda, enquanto 40% relataram uma recuperação acelerada e 42,9% confirmaram a influência significativa das comunicações pós-morte no seu luto, com 61% expressando o desejo de continuar o contato.

Já a influência sobre a tristeza relacionada com o luto foi variável: 41% dos inquiridos não registraram qualquer alteração, enquanto 40% sentiram uma diminuição da tristeza.

Os dados obtidos destacam o papel substancial e potencialmente terapêutico das comunicações pós-morte no luto e na cura, apesar dos efeitos variáveis na tristeza e na recuperação. "Este estudo sublinha a possível influência positiva das comunicações pós-morte nos parceiros em luto, [o que mostra a necessidade de] uma compreensão mais profunda deste fenômeno no processo de luto," concluiu o professor Callum Cooper, coordenador do estudo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Description and Impact of Encounters With Deceased Partners or Spouses
Autores: Jennifer K. Penberthy, Noelle R. St Germain-Sehr, Gwen Grams, Madeline Burns, David Lorimer, Callum E. Cooper, Chris A. Roe, Sophie Morrison, Evelyn Elsaesser
Publicação: OMEGA - Journal of Death and Dying
DOI: 10.1177/00302228231207900
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