08/01/2019

Dopamina tem personalidade yin-yang, agindo no prazer e na dor

Redação do Diário da Saúde
Dopamina tem personalidade yin-yang, agindo no prazer e na dor
O neurotransmissor dopamina tem uma personalidade mais complexa do que os cientistas pensavam.
[Imagem: Christine Liu]

Dopamina no prazer e na dor

Apesar de décadas ouvindo os cientistas falarem sobre o "hormônio da felicidade", hoje já se sabe que o neurotransmissor dopamina é uma faca de dois gumes: Liberado no cérebro como uma recompensa que nos leva a buscar experiências prazerosas, ele é também uma "droga" cuja busca constante leva ao vício.

Mas há mais do que isso, de acordo com um novo estudo feito por uma equipe da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA): lidar com o prazer, viciante ou não, é apenas uma das faces da dopamina.

O outro lado é que a dopamina também é liberada em resposta a experiências desagradáveis, como tocar em algo que nos causa dor - presumivelmente treinando o cérebro para evitar tais situações no futuro.

Esta natureza yin-yang da dopamina terá implicações no tratamento da dependência química e outros transtornos mentais e de comportamento.

Em doenças como a esquizofrenia, por exemplo, os níveis de dopamina em diferentes áreas do cérebro tornam-se anormais, possivelmente devido a um desequilíbrio entre os circuitos de recompensa (prazer) e evitação (dor) no cérebro. O vício também pode resultar de um desequilíbrio nas reações ao prazer e à dor.

"Além disso, as pessoas só procuram a próxima recompensa, e vão correr muito risco para obter a próxima dose de drogas de abuso. Atualmente, não conhecemos os fundamentos neurobiológicos de certos comportamentos de alto risco de indivíduos com dependência, como o compartilhamento da parafernália usada com as drogas, apesar do comprovado risco de mortalidade e morbidade associado com esse comportamento. Compreender como as drogas alteram os circuitos neurais envolvidos na aversão pode ter implicações importantes para a natureza persistente do comportamento de busca de drogas diante das consequências negativas," explicou o professor Stephan Lammel, coordenador do estudo.

Dopamina liberada em eventos negativos

Embora alguns neurocientistas especulem há muito tempo sobre o papel potencial da dopamina na sinalização de eventos aversivos, sua dupla personalidade permaneceu oculta até recentemente porque os neurônios no cérebro que liberam dopamina em resposta a recompensas estão embutidos em um subcircuito diferente do circuito onde estão os neurônios que liberam dopamina em resposta a estímulos aversivos.

Quem detalhou esse mecanismo foi o pesquisador Johannes de Jong, que foi capaz de gravar simultaneamente os dois subcircuitos de dopamina implantando cânulas de fibra óptica em duas regiões do cérebro - separadas por apenas alguns milímetros - usando uma nova tecnologia chamada fotometria de fibra.

"Nosso trabalho delineia pela primeira vez os circuitos cerebrais precisos em que ocorre o aprendizado sobre resultados gratificantes e aversivos," disse o professor Lammel. "Ter correlações neurais separadas para o comportamento apetitivo e aversivo em nosso cérebro pode explicar por que estamos nos esforçando para obter recompensas cada vez maiores minimizando ao mesmo tempo ameaças e perigos. Esse comportamento equilibrado de aprendizado de abordagem e evitação é certamente útil para sobreviver à competição em um ambiente em constante mudança."

Esse recém-descoberto papel da dopamina se alinha com um crescente reconhecimento de que o neurotransmissor tem papéis bastante diferentes em diferentes áreas do cérebro, exemplificado por sua função no movimento voluntário, que é afetado na doença de Parkinson. Os resultados também explicam experimentos conflitantes anteriores, alguns dos quais concluíram que a dopamina aumenta em resposta a estímulos aversivos, enquanto outros não.

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