28/06/2017

Aedes aegypti infectado com chikungunya é capturado pela primeira vez

Com informações da Agência Fapesp
<i>Aedes aegypti</i> infectado com chikungunya é capturado pela primeira vez
Aedes aegypti pode de fato ter sido o principal vetor envolvido nos surtos da doença registrados em 2015 e 2016.
[Imagem: Graham Snodgrass/Wikimedia Commons]

Pernilongo com chikungunya

Embora da ampla divulgação pelos cientistas e de todas as ações tomadas para proteção contra o vírus chikungunya, até agora não se tinha comprovação de que o vírus estivesse sendo de fato transmitido pelo Aedes aegypti

Segundo dados do Ministério da Saúde, até dezembro de 2016, tinham sido registrados mais de 265 mil casos prováveis de febre chikungunya no país. Em 2015, foram notificados quase 40 mil casos suspeitos. Apesar do alto número, nenhum inseto infectado havia sido detectado.

Agora, uma equipe da USP identificou pela primeira vez no Brasil, em Aracaju (SE), um pernilongo da espécie Aedes aegypti - um único indivíduo - infectado naturalmente pelo vírus causador da febre chikungunya. Segundo os autores, a descoberta reforça o "rol de evidências" de que o Aedes aegypti foi o principal vetor envolvido nos surtos da doença registrados em 2015 e 2016, principalmente no Nordeste brasileiro.

"Até então, em todo o continente americano, havia apenas uma única descrição de Aedes aegypti infectado pelo genótipo asiático do vírus chikungunya feita no México. O inseto que identificamos em Aracaju apresentava o genótipo ECSA [Leste-Centro-Sul-Africano, na sigla em inglês]. Essas duas linhagens já foram encontradas em pacientes no Brasil", disse André Luis Costa da Silva, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).

Captura e análise dos pernilongos

A coleta dos insetos foi realizada em fevereiro de 2016 em seis bairros de Aracaju onde havia um grande número de pessoas com sintomas característicos de arboviroses (doenças transmitidas por artrópodes), como febre alta e dor no corpo. A identificação dos locais estratégicos foi feita por meio de colaboração com pesquisadores do Laboratório Central de Saúde Pública de Sergipe (Lacen-SE), auxiliados por uma equipe do Ministério da Saúde. Outros pesquisadores da USP e do Instituto Butantan também participaram dessa tarefa multidisciplinar em Aracaju.

As análises tiveram como foco os três principais arbovírus em circulação na época: dengue, zika e chikungunya.

"Os mosquitos foram capturados vivos, por aspiração, tanto no interior como ao redor das residências. Cada casa tinha seu respectivo pote de coleta. Em laboratório, os insetos foram separados por espécie e por sexo. As fêmeas foram subdivididas entre as que estavam com abdome ingurgitado [sinal de que haviam se alimentado de sangue recentemente] e as que não estavam. Depois todos foram congelados e enviados para serem analisados em São Paulo", contou André Luis.

Ao todo, foram coletados 194 mosquitos da espécie Culex quinquefasciatus, mais conhecida como pernilongo comum. Em segundo lugar veio o Aedes aegypti, com 50 indivíduos. Outras duas espécies do gênero Aedes também foram capturadas: o A. scapularis (dois indivíduos) e o A. taeniorhynchus (também dois espécimes).

Pernilongo infectado

No laboratório o material genético presente nos corpos dos insetos foi analisado por uma técnica conhecida como PCR (reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês) em tempo real. Entre os 248 mosquitos avaliados, nenhum estava infectado com os patógenos causadores da dengue ou da zika. Apenas uma fêmea da espécie Aedes aegypti apresentou o vírus da febre chikungunya.

"Pode parecer pouco, mas uma fêmea infectada em um grupo de 50 é um índice considerado alto. Sugere uma alta circulação viral e, possivelmente, uma epidemia em curso", disse o pesquisador.

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