11/11/2022

Não é só o ódio: Radicais contestam democracia mesmo quando fazem as pazes

Redação do Diário da Saúde
Não é só o ódio: Radicais contestam a democracia mesmo quando fazem as pazes
Outro resultado que surpreendeu os pesquisadores foi descobrir que não dá para culpar a internet: Quem é agressivo online é agressivo cara a cara também.
[Imagem: Gerd Altmann/Pixabay]

Polarização afetiva e autoritarismo

O saber científico mais aceito entre os psicólogos e sociólogos considera que existiria uma conexão entre polarização afetiva (isto é, uma aversão às pessoas com diferentes visões políticas) e as atitudes antidemocráticas.

Por esse motivo, os cientistas têm recomendado aos formuladores de políticas e terapeutas que se concentrem em estratégias de despolarização para fortalecer a democracia e o nosso modo atual de vida, que acreditávamos ter-se desvencilhado para sempre dos desmandos dos ditadores.

Mas parece que essa postura não produz os resultados esperados por uma razão muito simples: Embora as estratégias voltadas para o aspecto afetivo realmente produzam bons resultados em termos de relacionamentos, reatando as fissuras causadas pela polarização política, elas não afetam as atitudes antidemocráticas.

Em outras palavras, ações voltadas para a despolarização reata os laços que mantêm a sociedade coesa, mas não muda o modo de pensar das pessoas que têm um viés antidemocrático.

A conclusão vem do Projeto de Fortalecimento da Democracia, uma equipe multidisciplinar de cientistas sociais das universidades de Stanford, Northwestern e Colúmbia e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que testaram várias intervenções de despolarização.

"As intervenções que reduzem até que ponto os partidários não gostam um do outro parecem não alterar ou reduzir a extensão em que eles mantêm atitudes antidemocráticas," disse o professor James Druckman, membro da equipe. "Precisamos pensar em maneiras de ajudar as pessoas a ver o valor da democracia em si mesmo, independentemente do partido".

Não é só o ódio: Radicais contestam a democracia mesmo quando fazem as pazes
Como tornar-se uma pessoa melhor muda sua postura política, talvez haja espaço para que a espiritualidade nos ajude a enfrentar os desafios atuais da coesão social.
[Imagem: Foundry/Pixabay]

Funciona contra o ódio

A equipe realizou três experimentos com uma amostra combinada de mais de 8.000 pessoas afiliadas aos dois partidos majoritários dos EUA (Democrata e Republicano). Em cada estudo, os participantes foram designados aleatoriamente a uma condição de controle ou a intervenções projetadas para reduzir a polarização afetiva - resumidamente, parar de odiar "os caras do outro partido".

As intervenções incluíram a correção das percepções errôneas sobre os apoiadores do outro partido, pedindo às pessoas que pensassem em um amigo que apoia a outra parte, ou mostrando a amizade real que existe entre dois candidatos que disputaram a mesma eleição uma contra a outra.

Os resultados mostraram que todas as três intervenções diminuíram de modo significativo o grau de animosidade entre os participantes, resultados que estão alinhados com experimentos anteriores. Mais do que isso, e aqui indo além das pesquisas anteriores, a equipe também descobriu que as intervenções podem aumentar o comportamento pró-social nas interações econômicas entre as pessoas - apoiar o auxílio às pessoas necessitadas, por exemplo.

Não funciona contra o anseio pela ditadura

Como um passo final, os pesquisadores testaram os efeitos das intervenções em várias atitudes antidemocráticas: A disposição dos participantes de apoiar os candidatos que sacrificariam os princípios democráticos para vencer uma eleição; a vontade de apoiar a violência partidária; e a disposição de priorizar fins partidários sobre meios democráticos, como as críticas ao processo eleitoral.

Surpreendentemente, as medições de despolarização afetivas não se correlacionaram com menos atitudes antidemocráticas, com os participantes diminuindo seu ódio contra os simpatizantes do outro partido, mas não abrindo mão da postura "Quero o meu ditador".

A expectativa era que "O ódio que eu sinto pelos defensores do outro partido" fosse a razão suficiente para que as pessoas abrissem mão da sua própria liberdade, mas não parece ser assim.

Como não esperavam por esse resultado, a equipe está projetando agora um estudo maior, para explorar em quais condições - se é que elas existem - intervenções de despolarização possam também reduzir as atitudes antidemocráticas.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Interventions reducing affective polarization do not necessarily improve anti-democratic attitudes
Autores: Jan G. Voelkel, James Chu, Michael N. Stagnaro, Joseph S. Mernyk, Chrystal Redekopp, Sophia L. Pink, James N. Druckman, David G. Rand, Robb Willer
Publicação: Nature Human Behaviour
DOI: 10.1038/s41562-022-01466-9
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