11/11/2019

Planta amazônica tem efeitos antitumorais multiplicados em laboratório

Com informações da Agência Fapesp
Planta amazônica tem efeitos antitumorais multiplicados em laboratório
Os alcaloides são compostos orgânicos produzidos por plantas ou microrganismos e usados há muito tempo na medicina - a morfina é um exemplo, extraída da flor da papoula (Papaver somniferum).
[Imagem: Adriana A. Lopes et al. - 10.1038/s41598]

Unha-de-gato

Pesquisadores de Ribeirão Preto e de São Carlos conseguiram sintetizar em laboratório formas modificadas de substâncias alcaloides produzidas pela planta amazônica unha-de-gato (Uncaria guianensis).

Em sua versão natural, esses compostos ficaram conhecidos pela capacidade de combater tumores e inflamações, incluindo o combate às inflamações causadas pela dengue, além de agir na modulação do sistema imunológico - a unha-de-gato está na lista de plantas medicinais disponíveis no SUS há mais de 10 anos.

O objetivo dos cientistas é obter uma estrutura química em que a ação terapêutica do composto natural seja potencializada, reforçando os efeitos, fazendo com que a terapia alcance os objetivos em um prazo mais curto.

A potencialização de outros alcaloides antitumorais derivados de plantas apresentou uma ação terapêutica até 30 vezes maior, como no caso da fluorvimblastina, resultado da adição de flúor à estrutura química da vimblastina, um alcaloide natural produzido pela vinca (Catharanthus roseus).

Plantas de laboratório

As modificações nos alcaloides foram feitas usando o próprio metabolismo da unha-de-gato. Plantas jovens (plântulas), de até 15 centímetros de altura, foram cultivadas no laboratório, em recipientes com água e nutrientes. Nesse meio líquido, foram adicionados os chamados precursores, que são intermediários-chave para a síntese de alcaloides naturais com pequenas modificações na sua estrutura.

"Esse protocolo se chama biossíntese dirigida pelo precursor. Quem está fazendo a síntese é a própria planta. Eu dou um intermediário-chave análogo [precursor] para ela, que é captado e inserido em sua rota metabólica, formando um novo alcaloide. É uma abordagem de 'química verde', totalmente livre de solventes, reagentes e que faz uso de um sistema in vitro de plântulas", explicou Adriana Aparecida Lopes, professora da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto).

Depois de passar por processos químicos para isolar os compostos análogos presentes no extrato das plantas, os dois novos alcaloides produzidos, modificados com flúor e metila, foram submetidos ainda a ressonância magnética nuclear, para confirmação de suas estruturas químicas.

O objetivo a seguir é aumentar a produção dos compostos. Para isso, será preciso silenciar na planta a produção dos alcaloides naturais. A ideia é que a unha-de-gato produza, no laboratório, apenas a versão fluorada.

"Para isso, uma enzima presente no metabolismo da unha-de-gato chamada TDC, que transforma o aminoácido triptofano em triptamina, deve ser silenciada. Dessa forma, a planta vai deixar de ter triptamina natural e produzirá apenas a versão modificada," explicou Adriana.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Unnatural spirocyclic oxindole alkaloids biosynthesis in Uncaria guianensis
Autores: Adriana A. Lopes, Bianca Chioca, Bruno Musquiari, Eduardo J. Crevelin, Suzelei de C. França, Maria Fátima das G. Fernandes da Silva, Ana Maria S. Pereira
Publicação: Nature Scientific Reports
Vol.: 9, Article number: 11349
DOI: 10.1038/s41598
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