22/06/2011

Poluentes do ar alteram células do sistema nervoso

Júlio Bernardes - Agência USP

Poluição nervosa

O efeito nocivo dos poluentes também atinge o sistema nervoso.

Foi o que revelou uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

A bióloga Paula Bertacini observou que o material particulado presente no ar da cidade de São Paulo provoca alterações nas células nervosas ainda em fase de desenvolvimento embrionário.

Desenvolvimento do sistema nervoso

A bióloga investigou o efeito do material particulado fino (PM 2,5) sobre o desenvolvimento embrionário do sistema nervoso.

"Na região central da cidade de São Paulo, a principal fonte de emissão de poluentes atmosféricos é veicular, ou seja, carros, ônibus, caminhões e motocicletas", diz Paula.

O experimento utilizou ovos embrionados de galinha produzidos especificamente para pesquisas.

"Uma suspensão com material particulado fino foi injetada nos ovos", conta a pesquisadora. "Posteriormente, foram analisados diversos aspectos morfológicos das células do cerebelo, órgão do sistema nervoso central cuja sensibilidade a substâncias tóxicas ambientais é descrita na literatura".

Células de Purkinje

A pesquisa se concentrou nas células de Purkinje, neurônios que desempenham papel central em várias das funções cerebelares.

"Foi observada redução no número das células de Purkinje ao mesmo tempo que os dendritos destas células apresentaram maior ramificação", aponta Paula.

"Embora não tenha sido o objetivo deste trabalho, é possível que alterações morfológicas nos dendritos das células de Purkinje causem interferência nas sinapses entre estas células e outras células cerebelares e, consequentemente, tenha ação sobre o trânsito de informações entre o sistema nervoso central e o organismo," diz ela.

Estresse oxidativo

A pesquisa também verificou variação nas moléculas envolvidas com o processo de estresse oxidativo no encéfalo dos animais.

"A ação dos poluentes atmosféricos pode ocorrer por meio de mecanismos como o estresse oxidativo e a inflamação", explica a bióloga. "O estresse oxidativo é relacionado a danos celulares e, nos animais submetidos ao PM2.5, quantidades superiores de substâncias envolvidas no processo foram detectadas."

De acordo com a pesquisadora, as conclusões do estudo realizado em embriões de galinha não podem ser extrapoladas para os seres humanos.

"Este trabalho é um estudo inicial que se propôs a avaliar os efeitos de concentrações diversas do material particulado fino sobre o sistema nervoso em desenvolvimento", observa. "Para isto, foram empregados animais que oferecem uma relativa facilidade analítica".

"Pesquisas posteriores deverão envolver outros animais", ressalta Paula. "A partir de estudos em camundongos, por exemplo, outros parâmetros poderão ser avaliados inclusive com possibilidade de alguma extrapolação para a espécie humana".

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