09/10/2019

Por que os diagnósticos de autismo estão aumentando tanto?

Redação do Diário da Saúde
Por que os diagnósticos de autismo estão aumentando tanto?
Recentemente, a renomada revista Nature Medicine anunciou que as causas genéticas do autismo foram postas em cheque. E outra equipe defende que a principal teoria sobre o autismo está errada.
[Imagem: Nature/Divulgação]

Diagnósticos de autismo

Se a tendência atual nos diagnóstico se mantiver, a definição de autismo pode se tornar vaga demais para ser significativa, afirma uma equipe de médicos canadenses.

Em todo o mundo, o número de pessoas diagnosticadas com autismo está aumentando vertiginosamente. Nos Estados Unidos, a prevalência do distúrbio aumentou de 0,05% em 1966 para mais de 2% hoje (40 vezes). No Canadá, onde a prevalência relatada também está próxima de 2%, existem registros de cidades (Montérégie) onde o diagnóstico de autismo aumentou 24% anualmente desde 2000.

No entanto, o Dr. Laurent Mottron, da Universidade de Montreal, tem sérias reservas sobre todos esses diagnósticos.

Depois de estudar meta-análises de pesquisas sobre autismo, sua equipe descobriu que a diferença entre as pessoas diagnosticadas com autismo e o resto da população está diminuindo - em outras palavras, o nível e a quantidade de características e sintomas necessários para diagnosticar uma pessoa com autismo está cada vez menor.

O que caracteriza o autismo?

O Dr. Mottron trabalhou com Eya-Mist Rodgaard, da Universidade de Copenhague (Dinamarca) e quatro outros pesquisadores da França, Dinamarca e Canadá para revisar 11 meta-análises publicadas entre 1966 e 2019, com dados de quase 23.000 pessoas com autismo.

Se essa tendência persistir, a diferença objetiva entre pessoas com autismo e a população em geral desaparecerá em menos de 10 anos.Dr. Laurent Mottron

As meta-análises mostraram que pessoas com autismo e pessoas no resto da população exibem diferenças significativas em sete áreas: reconhecimento de emoções, teoria da mente (capacidade de entender que outras pessoas têm suas próprias intenções), flexibilidade cognitiva (capacidade de fazer a transição de uma tarefa para outra), planejamento de atividades, inibição, respostas evocadas (a resposta do sistema nervoso à estimulação sensorial) e volume cerebral. Juntas, essas medidas abrangem os componentes psicológicos e neurológicos básicos do autismo.

Mottron e sua equipe analisaram o "tamanho do efeito" - o tamanho das diferenças observadas entre pessoas com autismo e pessoas sem ele - e compararam sua progressão ao longo dos anos. Essa medida é uma ferramenta estatística que quantifica o tamanho da diferença em uma característica específica entre dois grupos de sujeitos.

Eles descobriram que, em cada uma das áreas avaliadas, a diferença mensurável entre pessoas com autismo e pessoas sem autismo está diminuindo ao longo dos últimos 50 anos. De fato, uma diluição estatisticamente significativa no tamanho do efeito (variando de 45% a 80%) foi observada em cinco dessas sete áreas. As únicas duas medidas que não mostraram diluição significativa foram inibição e flexibilidade cognitiva.

"Isto significa que, em todas as disciplinas, as pessoas com ou sem autismo que estão sendo incluídas nos estudos são cada vez mais semelhantes," disse Mottron. "Se essa tendência persistir, a diferença objetiva entre pessoas com autismo e a população em geral desaparecerá em menos de 10 anos. A definição de autismo pode ficar muito nublada para ser significativa - trivializando a condição - porque estamos aplicando cada vez mais o diagnóstico para pessoas cujas diferenças em relação à população em geral são menos pronunciadas."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Temporal Changes in Effect Sizes of Studies Comparing Individuals With and Without Autism
Autores: Eya-Mist Rodgaard, Kristian Jensen, Jean-Noel Vergnes, Isabelle Soulières, Laurent Mottron
Publicação: JAMA Psychiatry
DOI: 10.1001/jamapsychiatry.2019.1956
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