18/08/2021

Por que intervalos durante os estudos nos fazem aprender mais?

Redação do Diário da Saúde
Por que intervalos durante os estudos nos fazem aprender mais?
Intervalos mais longos entre eventos de aprendizagem melhoram a memória e levam a padrões de ativação mais robustos no cérebro.
[Imagem: MPI of Neurobiology/Julia Kuhl]

Pausas para melhorar a memória

Muitos de nós já experimentamos a situação: Na véspera de um exame, tentamos enfiar uma grande quantidade de informações em nosso cérebro.

Mas, com a mesma rapidez com que parecemos aprender, o conhecimento que adquirimos tão meticulosamente é esquecido.

A boa notícia é que podemos neutralizar esse esquecimento: Com intervalos de tempo maiores entre as horas de estudo, aulas ou qualquer outro evento de aprendizagem, retemos o conhecimento por mais tempo.

Vários estudos comprovam que pequenas pausas ajudam o cérebro a aprender novas habilidades e que a melhor forma para estudar inclui intervalos bem planejados.

Mas o que acontece no cérebro durante as aulas e os intervalos, e por que fazer pausas são tão benéficas para nossa memória?

Intervalos no aprendizado

Os cientistas normalmente afirmam que, durante o aprendizado, os neurônios são ativados e formam novas conexões. Dessa forma, o conhecimento aprendido é armazenado e pode ser recuperado reativando o mesmo conjunto de neurônios.

No entanto, ainda sabemos muito pouco sobre como os intervalos influenciam positivamente esse processo - embora o efeito das pausas tenha sido descrito há mais de um século e ocorra em quase todos os animais.

Por que intervalos durante os estudos nos fazem aprender mais?
Não se esqueça de que, para aprender, a motivação é essencial.
[Imagem: Univ.Stanford/iStock]

Para não ter que abrir a cabeça dos alunos, Annet Glas e Pieter Goltstein, do Instituto Max Planck de Neurobiologia, investigaram esse fenômeno em camundongos.

No experimento, os animais tinham que se lembrar da posição de um pedaço de chocolate escondido em um labirinto. Em três oportunidades consecutivas, eles foram liberados para explorar o labirinto e encontrar sua recompensa - incluindo pausas de duração variada. "Camundongos que foram treinados com intervalos maiores entre as fases de aprendizagem não foram capazes de lembrar a posição do chocolate tão rapidamente," explica Annet Glas. "Mas, no dia seguinte, quanto mais longas haviam sido as pausas [no dia anterior], melhor era a memória dos camundongos."

Surpresa

Foi então que veio a surpresa: Os pesquisadores descobriram exatamente o oposto do que esperavam quando compararam a atividade neuronal durante as diferentes fases de aprendizagem.

Após pausas curtas, o padrão de ativação no cérebro flutuou mais do que com as pausas longas. E, nas fases de aprendizagem sucessivas rápidas, os camundongos ativaram principalmente neurônios diferentes. Ao fazer pausas mais longas, os mesmos neurônios ativos durante a primeira fase de aprendizagem foram usados novamente mais tarde.

A interpretação da equipe é que a reativação dos mesmos neurônios pode permitir que o cérebro fortaleça as conexões entre essas células em cada fase de aprendizagem - sem a necessidade de começar do zero e estabelecer as conexões (sinapses) primeiro. "É por isso que acreditamos que a memória se beneficia de pausas mais longas," disse o pesquisador Pieter Goltstein.

Assim, depois de mais de um século das primeiras demonstrações comportamentais, este estudo fornece os primeiros insights sobre os processos neurais que explicam o efeito positivo dos intervalos na aprendizagem. Com o aprendizado espaçado, podemos alcançar nosso objetivo mais lentamente, mas nos beneficiamos do nosso conhecimento por muito mais tempo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Spaced training enhances memory and prefrontal ensemble stability in mice
Autores: Annet Glas, Mark Hübener, Tobias Bonhoeffer, Pieter M. Goltstein
Publicação: Current Biology
DOI: 10.1016/j.cub.2021.06.085
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