02/07/2019

Paladar virtual é controlado usando luz

Redação do Diário da Saúde
Sensação de sabor é controlada usando luz
Que tal ingerir uma comida totalmente saudável, mas insossa, sentindo o mesmo sabor do seu possivelmente pouco saudável prato predileto?
[Imagem: Diogo Matias/Champalimaud Centre for the Unknown]

Sabor virtual

Uma mosca, que já não come há um dia, está prestes a morrer de fome. Então os cientistas colocam à sua frente um montinho de matéria gelatinosa.

Premida pela fome, a mosca começa a comer, quando, de repente, uma luz verde se acende. O resultado é impressionante: A comida, que há instantes estava longe de parecer uma delícia, parece tornar-se irresistivelmente doce. A mosca, excitada pela súbita melhoria, passa a comer vorazmente.

Mal a luz verde é desligada, seu entusiasmo diminui rapidamente, conforme o sabor da comida volta ao insosso original.

"A experiência da mosca foi muito real. Ela sentiu um sabor virtual criado pela manipulação direta dos seus neurônios gustativos," conta o professor Carlos Ribeiro, que lidera o laboratório de Comportamento e Metabolismo do Centro Champalimaud, em Lisboa (Portugal).

O experimento inusitado - e muito promissor - foi possível graças ao optoPAD, um sistema desenvolvido pela equipe que cria realidades virtuais de sensações gustativas, uma espécie de "paladar virtual", permitindo manipular o comportamento frente à comida.

Realidades gustativas virtuais

O optoPAD combina dois elementos de tecnologia de ponta: o primeiro é a optogenética, um método que usa a luz para controlar a atividade dos neurônios (ligá-los e desligá-los à vontade). No experimento acima descrito, a mosca desfrutou de um alimento mais apetitoso porque os seus neurônios sensíveis ao sabor doce foram ativados, através da optogenética, pela exposição à luz verde.

O segundo elemento do dispositivo é um sistema adicional, desenvolvido anteriormente pela mesma equipe, chamado flyPAD. "O flyPAD usa tecnologia táctil para monitorar o comportamento alimentar da mosca. Tal como o nosso celular é capaz de detectar o toque do nosso dedo na tela, o flyPAD é capaz de detectar cada toque que a mosca dá na comida," explica o pesquisador José Maria Moreira.

Combinando o flyPAD com a optogenética, os cientistas conseguiram superar um dos principais desafios da investigação sobre o comportamento alimentar: controlar com precisão as sensações gustativas.

Ao contrário das informações auditivas ou visuais, que podem ser alteradas instantaneamente e independentemente do que o animal estiver fazendo, as informações de sabor só podem ser recebidas quando os animais tocam voluntariamente com a língua na comida - ou, no caso da mosca, com a probóscide. "Com o optoPAD, conseguimos monitorar de forma contínua o comportamento da mosca e ter a certeza de que vamos alterar o sabor da comida (via optogenética) no preciso instante em que a mosca está em contato com a comida," explicou Moreira.

Que alimentos devemos comer

Manipular o sabor é um bom começo, mas não é o objetivo final.

"Desenvolvemos o optoPAD porque estamos interessados em perceber como o cérebro toma uma das decisões mais fundamentais para a nossa saúde: que alimento comer," disse Dennis Goldschmidt, coautor do trabalho. "Mas a escolha alimentar não depende apenas do sabor, muitas regiões cerebrais estão envolvidas, por isso quisemos garantir que o optoPAD também podia ser usado para estudar a atividade dos neurônios em qualquer parte do cérebro."

Embora o optoPAD pareça uma maneira fantástica de melhorar a nutrição sem comprometer o sabor, o objetivo dos investigadores é usar a tecnologia para melhorar a vida humana de uma forma mais fundamental.

"Os alimentos que ingerimos afetam todos os aspectos da nossa vida, incluindo o envelhecimento, a capacidade de reprodução, o tempo de vida, o estado mental e o humor," disse Ribeiro. "No entanto, a forma como o cérebro controla a escolha de alimentos ainda é um mistério. O optoPAD pode nos ajudar a identificar os neurônios e os genes que poderão ter um impacto direto na nutrição e, consequentemente, no nosso bem-estar futuro".

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