29/04/2019

Sono e envelhecimento estão interligados no cérebro

Redação do Diário da Saúde
Sono e envelhecimento estão interligados no cérebro
Esta pesquisa coloca alguma luz no eterno mistério: Por que precisamos dormir?
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Dormir e envelhecer usam os mesmos canais cerebrais

Pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) descobriram um processo cerebral comum ao sono e ao envelhecimento que abre caminho para novos tratamentos para a insônia.

Em um artigo publicado na revista Nature, Anissa Kempf e seus colegas relatam como o estresse oxidativo produz o sono. E o estresse oxidativo também parece ser uma razão pela qual nós envelhecemos e uma causa de doenças degenerativas.

Em primeiro lugar, a descoberta nos aproxima da compreensão da função ainda misteriosa do sono e oferece uma nova esperança para o tratamento dos distúrbios do sono. Em segundo lugar, ela também pode explicar por que a falta crônica de sono encurta a vida.

"Não é por acaso que os tanques de oxigênio trazem etiquetas de risco de explosão: a combustão descontrolada é perigosa. Os animais, incluindo os humanos, enfrentam um risco semelhante quando usam o oxigênio que respiram para converter alimentos em energia: uma combustão mal contida leva ao 'estresse oxidativo' na célula. Acredita-se que esta seja uma causa do envelhecimento e um culpado pelas doenças degenerativas que afetam nossos últimos anos. Nossa nova pesquisa mostra que o estresse oxidativo também ativa os neurônios que controlam se vamos dormir," disse o professor Gero Miesenbock, orientador da equipe.

Neurônios que controlam o sono

A equipe estudou a regulação do sono em moscas-das-frutas - o mesmo animal que forneceu a primeira percepção do relógio biológico há quase 50 anos. Cada mosca tem um conjunto especial de neurônios de controle do sono, células cerebrais que também são encontradas em outros animais e que se acredita existir nas pessoas. Em pesquisas anteriores, a mesma equipe descobriu que esses neurônios do controle do sono agem como uma chave liga-desliga: se os neurônios estão eletricamente ativos, a mosca está adormecida; quando eles estão em silêncio, a mosca está acordada.

"Decidimos procurar os sinais que ligam os neurônios do controle do sono. Sabíamos do nosso trabalho anterior que a principal diferença entre dormir e acordar é quanta corrente elétrica flui através de dois canais iônicos, chamados Shaker e Sandman. Durante o sono, a maior parte da corrente passa pelo Shaker," acrescentou o Dr. Seoho Song.

Os canais iônicos geram e controlam os impulsos elétricos através dos quais as células cerebrais se comunicam.

"Isso transformou a grande e intratável pergunta 'Por que dormimos?' em um problema concreto e solucionável: O que faz com que a corrente elétrica flua através do Shaker?" acrescentou Song.

Sono, envelhecimento e estresse oxidativo

A equipe encontrou a resposta em um componente do próprio canal Shaker.

"Suspenso debaixo da parte eletricamente condutora do Shaker está outra parte, como a gôndola debaixo de um balão de ar quente. Um passageiro na gôndola, a pequena molécula NADPH, vai e volta entre dois estados químicos - isso regula a corrente Shaker. O estado da NADPH, por sua vez, reflete o grau de estresse oxidativo que a célula experimentou. A falta de sono causa estresse oxidativo, e isso controla a conversão química," explicou a pesquisadora Anissa Kempf.

Em uma demonstração impressionante desse mecanismo, um flash de luz inverteu o estado químico da NADPH no cérebro das moscas, o que as fez adormecerem praticamente na hora.

Como não dá para ficar abrindo o crânio das pessoas para iluminar neurônios seletivamente, um fármaco oral ou injetável que possa alterar a química do NADPH ligado ao Shaker poderia vir a ser um novo tipo de pílula para dormir, dizem os pesquisadores.

"Distúrbios do sono são muito comuns e as pílulas para dormir estão entre as drogas mais comumente prescritas. Mas os medicamentos existentes apresentam riscos de confusão, esquecimento e dependência. Alvejar o mecanismo que descobrimos poderia evitar alguns desses efeitos colaterais," disse o professor Miesenbock.

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