Beta-amiloides ajudam a defender o cérebro?
Cientistas estão propondo um novo modelo explicativo para a doença de Alzheimer, encarando-a não como uma doença cerebral, mas como uma condição autoimune crônica que ataca o cérebro.
"Não pensamos na doença de Alzheimer como fundamentalmente uma doença do cérebro. Pensamos nela como uma doença do sistema imunológico dentro do cérebro," disse o Dr. Donald Weaver, do Instituto do Cérebro Krembil (Canadá).
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência. No entanto, apesar de mais de 200 ensaios clínicos nos últimos 30 anos, não há terapias modificadoras da doença para prevenir, interromper ou curar o Alzheimer.
"Nós precisamos de novas formas de pensar sobre esta doença, e precisamos delas agora. Até o momento, a maioria das abordagens na pesquisa de Alzheimer se baseou na teoria de que uma proteína chamada beta-amiloide, que supostamente é anormal no cérebro, se aglomera e, quando se aglomera, mata as células cerebrais.
"Mas acreditamos que a beta-amiloide está exatamente onde deveria estar. Ela atua como um imunopeptídeo - um mensageiro dentro do nosso sistema imunológico - de modo que, se tivermos traumatismo craniano, a beta-amiloide o repara. Se um vírus ou uma bactéria vem, a beta-amiloide está lá para combatê-lo," contextualizou o Dr. Weaver.
É aí que o problema ocorre, acrescenta o pesquisador.
"A beta-amiloide fica confusa e não consegue distinguir entre uma bactéria e uma célula cerebral e, portanto, inadvertidamente ataca nossas próprias células cerebrais. Isso, então, se torna o que chamamos de doença autoimune. O sistema imunológico está realmente atacando o hospedeiro, nosso cérebro," afirmou.
De fato, as evidências vêm-se acumulando contra a hipótese das placas amiloides como causa do Alzheimer e, além disso, já existem vários indícios de que as proteínas beta-amiloide podem ter um efeito benéfico no cérebro.
Alzheimer como doença autoimune
A equipe do Dr. Weaver realizou uma pesquisa abrangente, fazendo uma ampla revisão da literatura científica, dos estudos epidemiológicos e dos próprios experimentos, colhendo então dados suficientes para desenvolver um modelo mecanicista completo da doença de Alzheimer.
O modelo harmoniza outras proposições mecanicistas (incluindo proteopatia, sinaptotoxicidade e mitocondriopatia), ao mesmo tempo reconhecendo as beta-amiloides como um imunopeptídeo fisiologicamente oligomerizante e parte de um processo imunopático muito maior e mais amplo, e altamente interconectado.
Dentro desse modelo, o metabolismo de aminoácidos do L-triptofano e L-arginina surgem como reguladores da imunidade inata, apontando assim para novas abordagens diagnósticas e terapêuticas.
Mudar o modo com os cientistas e médicos pensam sobre a doença de Alzheimer - como uma doença autoimune, sendo as beta-amiloides uma parte normal do nosso sistema imunológico - abre novos caminhos e novas abordagens para desenvolver terapias que, ao contrário de todas as testadas até hoje, funcionem de fato.
"Estamos muito animados em nosso laboratório. Achamos que esta teoria autoimune é sólida e representa um significativo passo conceitual à frente," concluiu o Dr. Weaver.
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