08/08/2025

Cientistas entraram no mundo das teorias da conspiração. E tiveram uma surpresa

Redação do Diário da Saúde
Cientistas entram no mundo das teorias da conspiração. Veja o que eles descobriram
Evento real do qual os cientistas participaram, aumentando a preocupação de que não temos nenhuma técnica viável para combater teorias da conspiração.
[Imagem: Tim Hill et al. - 10.1177/0038038525134448]

Acolhimento e participação

Um estudo feito ao longo de cinco anos mostra que o universo das teorias da conspiração não é um mundinho fechado e isolado em si mesmo que os cientistas vinham descrevendo.

Na verdade, o estudo desfaz o estereótipo de que os teóricos da conspiração sejam pessoas solitárias e antissociais. Em vez disso, a realidade que emergiu é que os teóricos da conspiração estão recrutando participantes de personalidades muito diversas, e estão fazendo isso em escala crescente.

Para descobrir isso, os cientistas foram além de analisar postagens: Eles se juntaram aos grupos fechados em redes sociais online, mas também participaram de reuniões públicas, conferências e protestos.

"Inicialmente, estávamos apreensivos em abordar grupos frequentemente descritos como delirantes, perigosos e raivosos," disse o Dr. Tim Hill, da Universidade de Bath (Reino Unido). "Na prática, quando participamos dos eventos, descobrimos que as pessoas eram acolhedoras, curiosas e entusiasmadas. Essa qualidade social desses contextos tornou-se fundamental para nossas descobertas."

Os pesquisadores esperam que essa sua experiência reformule as discussões sobre como as pessoas se envolvem em teorias da conspiração, afastando-se da ideia de que a crença em teorias da conspiração é motivada apenas pela personalidade ou pelo pensamento irracional. Ao compreender as circunstâncias problemáticas da vida e a busca subsequente das pessoas por soluções e apoio, este estudo ajuda a explicar como e por que as teorias da conspiração estão crescendo.

Encontrando uma nova verdade?

A pesquisa ocorreu em duas etapas. Durante a primeira etapa da coleta de dados (2017-2018), os pesquisadores interagiram com uma comunidade interessada em uma variedade de teorias da conspiração. Entre elas, estavam narrativas anti-5G, ideias de terra plana, saúde alternativa e hesitação em relação à vacinação, bem como comunidades de espiritualidade alternativa.

Durante a segunda etapa da coleta de dados (2018-2022), os pesquisadores compareceram a vários eventos organizados pelos teóricos da conspiração, participando de reuniões públicas, conferências e protestos na Inglaterra e no País de Gales.

Eles identificaram três estágios principais para acreditar em teorias da conspiração. Primeiro, uma experiência que leva as pessoas a questionar fontes confiáveis de conhecimento - em muitos casos, isso pode significar sentir-se decepcionado com serviços do setor público ou figuras de autoridade, o que leva as pessoas a se sentirem emocionalmente conectadas às ideias conspiratórias.

Em segundo lugar, as pessoas compreendem as teorias da conspiração em conjunto, o que fortalece crenças compartilhadas. Conhecidos como "despertares", as pessoas sentem que estão entendendo a verdade sobre o mundo pela primeira vez. "Meus amigos e eu vemos o mundo agora com uma nova perspectiva. A pandemia nos fez ver a luz, a verdade. Foi como uma revelação," disse um dos entrevistados.

"As teorias da conspiração oferecem respostas simples e tranquilizadoras, mas, mais do que apenas resolver problemas, elas criam emoções compartilhadas, pertencimento e comunidade," disse Hill. "Fomos a locais movimentados - um ativista abre com uma história e, em seguida, as pessoas se levantam para compartilhar as suas. O ativista expõe suas ideias, seguidas de aplausos, transmitindo uma sensação de solidariedade e positividade por ter encontrado uma resposta clara e definitiva."

O lado nefasto das conspirações

Na fase final da adesão, as pessoas não apenas acreditam nas teorias, mas também agem com base nelas - protestando como parte de um movimento conspiratório. Muitas vezes, isso ocorre após fazerem sua própria pesquisa, lendo documentos oficiais e absorvendo uma riqueza de informações relacionadas à conspiração, o que lhes permite produzir suas próprias explicações conspiratórias.

No entanto, a natureza social das comunidades de teorias da conspiração não significa que elas sejam benevolentes. Os cientistas documentaram o caso de um participante que se afastou da família e recebeu uma condenação criminal após seu envolvimento em protestos contra o confinamento em casa durante a pandemia de covid-19, demonstrando como as teorias da conspiração podem destruir famílias e vidas.

"Embora esses grupos ofereçam um senso de pertencimento, é crucial reconhecer que eles também podem levar à divisão e à angústia em relacionamentos pessoais fora das comunidades de conspiração," disse Stephen Murphy, coautor da pesquisa.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Resonant Awakenings: the social lives of conspiracy theorists
Autores: Tim Hill, Stephen Murphy, Robin Canniford
Publicação: Sociology
DOI: 10.1177/0038038525134448
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