As muitas maneiras pelas quais a natureza gera o bem-estar humano

De todos os caminhos que ligam um único serviço ecossistêmico cultural a um único componente de bem-estar, 86,3% representaram contribuições positivas, e apenas 11,7% contribuições negativas.
[Imagem: Nicola Burghall]

Natureza e bem-estar

Você já sentiu a necessidade de um pouco de ar fresco para se energizar, ou passar um tempo no jardim para relaxar?

É uma ótima ideia porque, além de água potável, alimentos e matérias-primas úteis, a natureza oferece muitos outros benefícios que podemos ignorar ou achar difíceis de entender e quantificar.

Essa interação humano-natureza deu origem a um campo de pesquisas conhecido como "serviços ecossistêmicos culturais" (SECs), os benefícios imateriais que recebemos da natureza. O objetivo dessas pesquisas é compreender melhor essas contribuições, sejam elas decorrentes da recreação e de experiências sociais, ou o valor espiritual da natureza e nosso senso de pertencimento.

Centenas de estudos desse tipo têm explorado as conexões entre a natureza e o bem-estar humano. No entanto, eles tipicamente usaram métodos e medições diferentes, ou focaram em diferentes demografias e lugares.

Essa fragmentação torna difícil identificar padrões abrangentes ou pontos em comum sobre como essas contribuições intangíveis realmente afetam o bem-estar humano. E uma melhor compreensão desses padrões pode ajudar na tomada de decisões do mundo real sobre o meio ambiente, o que pode beneficiar os indivíduos e a sociedade em geral.

Para tentar obter uma visão mais geral, Lam Huynh e colegas da Universidade de Tóquio (Japão) realizaram uma revisão sistemática da literatura, identificando de 301 artigos científicos recentes sobre o tema. Após uma leitura crítica, eles conseguiram identificar centenas de ligações entre convivência com a natureza e bem-estar físico (fisiológico), emocional e espiritual.

"Nós identificamos 227 ligações únicas entre um único SEC [serviço ecossistêmico cultural], como recreação ou valor estético, e um único componente do bem-estar humano, como conectividade, espiritualidade ou saúde. Sabíamos que existem muitas ligações, mas ficamos surpresos ao encontrar tantas," disse Huynh. "Então, por meio de uma leitura crítica adicional, conseguimos identificar os principais pontos em comum."

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Os cientistas ficaram surpresos com a quantidade de modos como a natureza beneficia o bem-estar humano.
[Imagem: Lam Thi Mai Huynh et al. - 10.1126/sciadv.abn8042]

Contribuições positivas e negativas da natureza

A equipe identificou 16 "mecanismos" subjacentes distintos, ou tipos de conexão, que se referem às diferentes maneiras pelas quais a interação das pessoas com a natureza afeta seu bem-estar.

Por exemplo, pode haver interações positivas por meio de mecanismos "coesivos", "criativos" e "formativos", mas também interações negativas, por meio de mecanismos "irritativos" e "destrutivos".

Estudos anteriores identificaram alguns desses mecanismos, mas 10 foram definidos recentemente, incluindo os efeitos mais negativos, mostrando claramente que nosso bem-estar está ligado aos aspectos intangíveis da natureza de muitas mais maneiras do que se pensava anteriormente.

As contribuições negativas para o bem-estar humano vieram principalmente através da degradação ou perda de SECs, e através de "desserviços" ecossistêmicos, como o incômodo com o ruído da vida selvagem, que pode afetar a saúde mental de algumas pessoas em particular. Por outro lado, as maiores contribuições positivas dos SECs foram para a saúde mental e física, que foram geradas principalmente por meio de recreação, turismo e valor estético.

Apesar da abrangência da revisão, os pesquisadores reconhecem que ainda pode haver mais conexões entre natureza e bem-estar que ainda não foram identificados, especialmente porque a revisão revelou lacunas no cenário atual da pesquisa.

"Outra das lacunas de conhecimento que identificamos é que a literatura existente sobre essas dimensões não materiais das relações humano-natureza se concentra principalmente no bem-estar dos indivíduos, e não no bem-estar coletivo, comunitário," explicou Huynh. "Essa lacuna significativa dificulta nossa capacidade de identificar possíveis sinergias e compensações na pesquisa e prática de gestão de ecossistemas."

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